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Como a vida retorna depois de uma grande erupção?


Provavelmente você leu alguma notícia sobre o vulcão Anak Krakatau no início de abril desse ano (vídeo). Anak Krakatau é “filho” de Krakatau, um grande vulcão que entrou em erupção em 1883, destruindo a ilha em que estava situado na Indonésia. Krakatau ficou submerso no oceano por anos, exceto por uma única porção da ilha, uma montanha estéril chamada Rakata.

Os ambientes destruídos pela erupção de um vulcão (ou por outros eventos) passam por um processo longo de recuperação da biodiversidade. O processo de chegada e estabelecimento de novas espécies é chamado de recolonização. Diferente de um ser vivo, os ecossistemas podem encolher, desaparecer e renascer diversas vezes ao longo de milhões de anos. Em Rakata, esse processo foi acompanhado de perto pelos biólogos, o que nos permite poder contar para vocês a história da recolonização da ilha. No começo tudo é incerto. A maioria das sementes fracassa, o solo não é adequado, não existem presas e a competição é alta. A comunidade muda sem parar, novos hábitats surgem e a biodiversidade vai aumentando aos poucos.

A primeira expedição biológica em 1884, não encontrou sinais de vida, exceto por uma aranha microscópica. Como uma criatura sem asas poderia chegar tão rápido à ilha? Provavelmente por uma “viagem de balão” (vídeo). Meses depois, os biólogos encontraram alguns brotos de gramínea na ilha. As expedições seguintes registraram um número cada vez maior de gramíneas e arbustos. Em 1919, existiam pequenas florestas rodeadas de pradarias. Dez anos depois, as florestas dominaram as pradarias e fizeram da ilha a floresta tropical fluvial que ela é hoje.

Além das plantas e animais, outros organismos pequenos também desbravaram o novo ambiente. Mas se ainda não havia vegetação, do que as primeiras espécies se alimentavam? Aranhas e grilos carnívoros não-voadores persistiram nos campos estéreis, alimentando-se de insetos que caíam nas “chuvas colonizadoras”.  Essa chuva é o vento que traz bactérias, fungos, pequenas sementes, insetos, aranhas e outras minúsculas criaturas. Lagartos grandes se alimentavam dos caranguejos, que por sua vez comiam plantas e animais marinhos mortos e levados para a praia pelas ondas. Foi assim que a maioria das espécies colonizou o que sobrou de Krakatau.

Em 1899 foi encontrado um varano-malaio (Varanus salvator, uma espécie de lagarto) na praia. Ele, assim como a píton (Python reticulatus), os pássaros, morcegos, libélulas e borboletas, provavelmente chegou por conta própria. Os galhos e troncos dos rios, são levados para o mar e transportam micro-organismos, insetos, cobras, rãs e até pequenos mamíferos. Tempestades violentas e trombas d’água são capazes de arrastar animais maiores e peixes para praias próximas. Esses animais dão carona para outros organismos (sementes, bactérias, fungos, protozoários, vermes, tardígrados, ácaros e piolhos). Pseudoescorpiões se prendem aos pelos das libélulas e outros grandes insetos, viajando como Aladim no tapete mágico.

Com o tempo, novas espécies chegarão, espécies velhas desaparecerão, a composição da fauna e da flora mudará, mas o número de espécies presentes permanecerá constante. Atualmente, a comunidade de espécies está amadurecendo, mas o processo de colonização é instável e está longe de se completar. Nenhuma espécie das árvores das florestas das ilhas próximas à Rakata retornou à ilha.

Rakata, conseguiu, em um século, regenerar a aparente vida típica das ilhas da Indonésia, e a diversidade da vida foi em grande parte recuperada. Mas será que espécies endêmicas (exclusivas da ilha) não foram extintas para sempre? Rakata nos conta como a vida é resiliente e capaz de recolonizar ecossistemas devastados. Retomar a dinâmica é um processo longo, complexo e dependente da vida existente nas ilhas próximas e no continente. Nos faz refletir que, áreas devastadas dos nossos biomas ainda podem ser restauradas. É preciso deixar a natureza se regenerar enquanto há tempo.

 


Texto por Matheus Galvão Brito e Msc. Tainah Cruz Moreira — publicado em maio de 2020


Imagem  Destaque: “Seed Of Life” por Kenzo Bruijnaers.

Imagem 1 (adaptada): Autor desconhecido (Fonte: História e Atualidades)

Imagem 2: “Summer is not over yet – illustration” por Tamara Soro.

Imagem 3: “Iguana Island” por Alison Galarza.


SEN, S. Enchanting Islands: Insular Biology Revisited. The Beats of Natural Sciences, vol. 2, no 1, 2015.

WILSON, E. O. Diversidade da vida. Editora Companhia das Letras, 2012.

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