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No faro da onça


Leitores Galápagos o que faremos hoje? Dominar o mundo… mas aos pouquinhos. Hoje é um belo dia pra falar sobre uma família que faz parte do nosso cotidiano há várias décadas, uma das suas espécies foi domesticada e temos variados desenhos animados com eles como protagonistas. Outra espécie dessa família é o Símbolo Brasileiro da Conservação da Biodiversidade comemorado no dia 29 de novembro e seu lindo rostinho estampa as notas de 50 reais… Agora ficou fácil hein?

Os felinos, membros da família Felidae, são mamíferos que pertencem a ordem dos carnívoros. Os primeiros “gatinhos” surgiram há aproximadamente 25 milhões de anos. São predadores de topo da cadeia alimentar, desempenhando uma função importante: controle populacional. Tive o prazer de conhecer mais sobre a onça parda (Puma concolor) durante o mestrado. A presença desse lindo animal desperta as mais fortes e diversificadas emoções humanas, não é mesmo? Essas emoções podem começar no fascínio, passando pelo medo e a raiva, até chegar à admiração da sua beleza, exuberância e força. E no caso da onça parda (que também pode ser conhecida como puma, leão-baio, suçuarana, boiadeira ou onça-vermelha), pela sua agilidade.

A onça parda (Puma concolor) é o segundo maior felino do Brasil, ficando atrás apenas da onça-pintada (Panthera onca). E é ela que vamos conhecer hoje. As onças são animais naturalmente solitários, ágeis, ótimos saltadores e carregam a fama de serem obstinadas (é só instinto vai). Ocorrem em todos os biomas brasileiros (e em outros países). Possuem atividade mais intensa no finzinho da tarde e noite, pois possuem uma visão noturna excepcional. A cor da sua pelagem pode variar de marrom-acinzentada claro a marrom avermelhado escuro, com manchas mais claras na parte de baixo do corpo, a depender da região. Assim como a visão, o olfato e a audição são bem desenvolvidos.

Essas características auxiliam demais na pesquisa sobre a espécie. Já pensou se você fosse um biólogo e tivesse que capturar uma onça toda vez que precisasse estudá-la? Imagine o transtorno, estresse e o quanto potencialmente perigoso seria para o animal e para os pesquisadores. Nossa sorte é que as respostas sobre detecção, registro e identificação não necessitam de captura. Para isso, nós usamos as metodologias de amostragem não invasivas.

Existem vários tipos: câmeras fotográficas (cameras traps), análises de rastros (pegadas, arranhões) e coleta dos cocôs peludos por busca ativa, as armadilhas de pelos (hair-traps) e atração por cheiro (scen trap). Essas técnicas são úteis, baratas, adequadas ao clima e de fácil instalação em locais de difícil acesso. A identificação das espécies pode ser feita através da análise microscópica dos padrões dos pelos-guarda ou através da análise de DNA de pelos e fezes (que eu fiz no meu mestrado).

A busca ativa de cocôs peludos, é nada mais nada menos que andar no mato em busca de fezes frescas dos “gatinhos” (facilmente reconhecíveis por um emaranhado de pelos). Já a camera trap é uma caixa com uma câmera fotográfica dentro, com sensores de presença. Quando um animal passa na frente, ela dispara uma sequência de fotos. A armadilha de pelo para felinos é uma placa rígida ou árvore coberta com uma tira grossa de velcro® ou pregos presos a carpete (calma, o couro da onça é mais grosso do que a nossa pele, ok?). Os felinos têm o comportamento natural de se esfregar nas coisas para deixar seu cheiro nelas. Quando as onças se esfregam nas armadilhas, além do cheiro, alguns pelos ficam presos também. Mas quem garante que ela vai se esfregar ali?

Aqui temos o “pulo do gato”! Para atrair a onça em esfregar-se na árvore, no local bem certinho em que está a armadilha de pelo, utilizamos alguns atrativos olfativos. Inclusive um perfume muito conhecido mundialmente já foi utilizado. Cinco borrifadas do Obsession da Calvin Klein e o sucesso da armadilha estava garantido. Nada bobinhas essas oncinhas né? Brincadeiras à parte, o perfume é um sedutor de onças, mas não é o único. Podem ser utilizadas essências de canela, baunilha e a mais famosa para os pais de gatinhos, o catnip (erva de gato). Armadilhas prontas! Só separar potinhos para a coleta dos pelos e das fezes, e depois levar para análises laboratoriais de DNA.

Parece fácil, mas ainda existem alguns desafios e necessidade de aprimoramentos. As vezes o campo é super cansativo e os resultados são incertos. Porém, estas metodologias não causam estresse animal e podem ser úteis em vários tipos de estudos (e em outras espécies), então pode apostar que vale a pena mais investimentos nessa área.

O caminho ainda é longo, pois o estudo de grandes felinos sempre esbarra em conflitos com humanos. Quem nunca ouviu falar sobre um ataque de onças (famintas) a um rebanho? Essa é uma consequência do desmatamento e da conversão das nossas florestas em pastos. Um dos nossos maiores desafios é o de sensibilizar as pessoas (em especial criadores) de que é mais vantajoso preservar a floresta (e consequentemente a comida das onças) do que simplesmente eliminá-las.

E aí… Quem topa ir pro mato usando o tal perfume?

 


Texto por Juliani Zanoni — publicado em maio de 2020.


Imagem Destaque: Puma – Colorful Animal por Raquel Catalan.

Imagem 2 por Juliani Zanoni.

Imagens 3 e 4 por Marcelo Cervini.


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