Num convento, em 1525, um dos empregados adoeceu gravemente, preocupando muito os cuidadores na época. Estes cuidadores sabiam que sangria (retirar parte do sangue do homem) o ajudaria a melhorar. Mas após algumas tentativas de perfurar, ninguém encontrou as veias do homem. Sem esperanças, desistiram e o deixaram em sua última noite, enquanto faziam os preparativos para seu enterro. Então, à noite, um morcego encontrou uma veia no homem e mordiscou para lamber o sangue e se alimentar. Pela manhã, o homem estava saudável, e logo estaria pronto para retornar ao trabalho. Apelidando o morcego de “Morcego Médico”.
Os morcegos mais famosos são os morcegos-vampiros, mas, que tal conhecer mais sobre esse grupo que influencia muito mais na nossa vida do que imaginamos?
Morcegos vampiros tem grande valor para a medicina por terem na saliva um anticoagulante importante, que pode ajudar no tratamento de coagulações, derrames e tromboses nas veias.
A fama dos morcegos-vampiros não é justa, pois frequentemente são associados a doenças. Quando observamos os casos de raiva, os cães transmitiram mais da metade dos casos que os morcegos até 2001. Morcegos também não atacam humanos espontaneamente, pois das três espécies hematófagas (que se alimentam de sangue) conhecidas, duas preferem sangue de aves (como galinhas, pássaros etc.), enquanto o único que se alimenta de sangue de mamíferos, prefere sangue de animais de fazenda (bois, cavalos e ovelhas).
Em 1973, um pesquisador começou a estudar morcegos e se surpreendeu quando notou que mesmo quando estavam cegos, vendados ou no escuro, eles conseguiam voar tranquilamente sem colidir com objetos. Alguns anos mais tarde, outros pesquisadores descobriram que os morcegos e baleias usam o som para saber o que tem à sua frente. Eles emitem sons em frequências que não conseguimos ouvir, e conseguem saber se há objetos na sua frente. Inspirado nisso, pesquisadores criaram o que conhecemos como Sonar. Mas não parou por aí! Essa habilidade dos morcegos, chamada de biossonar ou ecolocalização chegou na medicina na forma da ultrassonografia. Que hoje é muito usado para acompanhar o crescimento do bebê na gravidez, por exemplo.
São muitas espécies de morcegos sendo 182 espécies aqui no Brasil. Os morcegos frugívoros são aqueles que comem frutos, conhecidos por serem importantes semeadores. Eles comem os frutos, e deixam a semente cair enquanto voam. Essas sementes têm mais chances de crescer, e assim, eles plantam diversas árvores.
Além dos vampiros, existem morcegos conhecidos como morcegos beija-flor, que são aqueles que se alimentam bebendo o néctar de flores. Esses morcegos são importantes por terem relação especial com as flores em que se alimentam, pois elas só se reproduzem se forem polinizadas por esses morcegos, como a Agave. A agave-azul é um cacto que produz uma flor quando atinge 12 anos. É dessa flor que a Tequila é destilada. Essa relação é tão importante que, para salvar a tequila, foi necessário salvar da extinção o morcego mexicano, polinizador desta espécie da planta.
Morcegos insetívoros
Também existem os morcegos insetívoros, aqueles que comem insetos. Eles conseguem comer de 500 a 1000 insetos por hora, ajudando a diminuir a quantidade de mosquitos, moscas e outros insetos. Os morcegos são essenciais, seja controlando a quantidade de insetos, plantando sementes, polinizando flores entre outros serviços para a natureza. Mas eles são animais injustiçados. É importante conservarmos os morcegos, pois eles cuidam da natureza e nós necessitamos de recursos que a natureza nos fornece. E ainda temos muito o que aprender com estes animais. Quem sabe quais novas descobertas e tecnologias para a medicina eles poderiam nos ensinar?
Texto escrito por Daniel de Abreu Damasceno Júnior — publicado em junho de 2020.
Instagram: @morcegando.na.rede
Imagem Destaque: Flying Fox por Brad Woodard
Imagem 1: Wikimedia (Wikipédia)
Imagem 2: Wikimedia (Wikipédia)
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