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A Serra das baleias


Já imaginou poder se encantar ao avistar as baleias-jubarte do alto de uma Serra, rodeado pelo verde da Mata Atlântica e o azul do Oceano? Esse é o cartão postal do Mirante de Serra Grande (Uruçuca, Bahia), onde se localiza o ponto de monitoramento visual das baleias-jubarte realizado pelos pesquisadores do Projeto Baleias na Serra. A vila de Serra Grande se encontra no município de Uruçuca, entre Ilhéus e Itacaré, na região da costa brasileira com a plataforma continental mais curta, que associada a esse ponto alto de 93 metros perto da linha da costa, permite ver as jubartes a grandes distâncias.

A baleia-jubarte é uma espécie migratória que durante o verão se desloca para altas latitudes com águas mais produtivas para se alimentar, e durante o inverno se reproduz em águas mais quentes e rasas em baixas latitudes. Existem 15 populações em todo o mundo, e entre os meses de julho e outubro, a população conhecida como estoque reprodutivo A migra para as águas brasileiras para ter os seus filhotes e acasalar. Com moratória internacional de 1966, a população de jubartes que foi reduzida a aproximadamente 1000 indivíduos, teve uma recuperação sensacional e hoje estima-se que o número de jubartes que vêm para a costa brasileira pode estar em torno de 20.000. Devido a esse aumento populacional, começou a ser comum avistar as baleias-jubarte não apenas no Banco dos Abrolhos, mas também em toda a costa baiana. Com esse reaparecimento em áreas onde as baleias eram observadas, podemos começar a entender melhor como as baleias-jubarte usavam as águas brasileiras antes de serem afetadas pela caça.

Alguns trabalhos já foram publicados pelos pesquisadores do nosso projeto, que é executado pelo Laboratório de Ecologia Aplicada à Conservação da Universidade Estadual de Santa Cruz (LEAC/UESC), mostram o que as baleias-jubarte estão a fazer na região de Serra Grande ao longo da temporada reprodutiva. Observamos que as baleias-jubarte mudam o uso do habitat e os seus padrões de movimento ao longo da temporada, se aproximando da costa com o passar do tempo, o que se deve ao nascimento dos filhotes pelo meio da temporada. As mães com filhotes buscam águas mais tranquilas e protegidas para poderem amamentar e os filhotes repousarem nos primeiros tempos da sua vida, se preparando para a sua primeira migração de 4.000 km para as áreas de alimentação.

Também foi observado que os grupos apresentam movimentos mais erráticos no início da temporada, se redirecionando mais do que no final da temporada. Isso pode se dever ao fato que no início da temporada os animais buscam mais ativamente por parceiros para acasalar, enquanto no final da temporada estão se preparando para a migração rumo à região subantártica. Também ficou claro que as baleias apresentam predominantemente movimentos em direção ao sul durante toda a temporada, o que pode indicar que as baleias se deslocam para norte mais afastadas da costa, não sendo observadas tão frequentemente. Em uma parceria com o Instituto Baleia Jubarte e o Instituto Verde Azul, comparamos o uso do habitat das baleias-jubarte entre a região de Serra Grande e o Arquipélago dos Abrolhos. Observamos que as baleias se deslocam com velocidade e linearidade similares, apesar de que em Serra Grande ocorre uma maior mudança de direção ao longo das trajetórias percorridas pelas baleias.

Além do monitoramento visual a partir de terra, o nosso projeto também realiza o monitoramento acústico a partir de gravadores autônomos instalados no fundo do mar em uma parceria com o Laboratório de Acústica e Meio Ambiente da Universidade de São Paulo. Os machos de baleias-jubarte são conhecidos pelos seus complexos cantos que se alteram ao longo dos anos, e são objeto de estudo dos nossos pesquisadores. Recentemente. em um trabalho de mestrado também foi analisada a atividade vocal dos machos cantores, e verificou-se que a flutuação do número de indivíduos observada ao longo da temporada, também é observada no número de machos vocalmente ativos detectados. O aumento da atividade vocal dos machos durante o período da noite também foi registrado.

E como a ciência precisa ser compartilhada com a sociedade, também realizamos atividades de divulgação científica e sensibilização ambiental. O encanto e carisma das baleias pode ser usado para que cada um de nós entenda a sua responsabilidade em compartilhar este planeta azul com seres tão magníficos.

 


Texto escrito por Dra. Maria Isabel Gonçalves e Dr. Julio Baumgarten – publicado em setembro de 2020.


Imagem Destaque: Whale dream por Adela Stopka

Imagens 1: Eco360

Imagem 2: Maria Isabel Gonçalves

Imagem 3: Água Viva Sub

Imagem 4: José Nazal

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