Nas últimas semanas, as notícias sobre as queimadas no Pantanal tomaram a imprensa. Quantas imagens de animais carbonizados e áreas imensas sendo destruídas pelo fogo chegaram até você? Incontáveis, acredito. Observei que a grande maioria das lamentações nas minhas redes sociais eram sobre o sofrimento dos animais, principalmente. Infelizmente, a “valorização” da vida dos animais selvagens não é o suficiente para conservarmos a biodiversidade.
Te proponho um exercício: pergunte a alguém porque devemos conservar a biodiversidade. Se você conseguir um resposta válida, muito provavelmente ela estará relacionada ao direito que as espécies têm à vida. Você também pode escutar respostas sobre dependermos da “conservação do meio ambiente” ou sobre como todas as coisas na Terra estão interligadas e que a sobrevivência da espécie humana depende disso.
Então, se você também usa esses argumentos, e precisa de mais alguns, segue firme nesse texto. Vou te ajudar a desenvolver essa argumentação e te apresentar mais alguns pontos.
Primeiro, é um fato que todas as espécies existentes hoje têm direito â vida. E apenas este argumento deveria ser o suficiente para decidirmos conservar a biodiversidade. Se alguém tentar subjugar a existência das demais espécies perante a espécie humana, então partimos para o pilar da Biologia: a Evolução! Todas as espécies viventes atualmente passaram por um processo de milhões (e milhões e milhões) de anos de evolução para chegarem até aqui. Todas as espécies (incluindo o Homo sapiens) surgiram de ancestrais que enfrentaram catástrofes e, no decorrer de milhões de anos, se adaptaram e encontraram seu lugar no mundo e no funcionamento unificado dos ecossistemas.
E sabe aquele argumento da interdependência? É aqui que ele entra.
Com cada espécie ocupando seu lugar como uma engrenagem para o funcionamento de uma máquina, a função de cada peça tem efeito direto na função de outras peças e assim sucessivamente. Mas como o equilíbrio dos ecossistemas também pode não ser o suficiente para convencer as pessoas, vamos pensar em como a espécie humana se beneficia deste processo.
Nossa espécie se beneficia direta e indiretamente de todos os serviços prestados pela biodiversidade, os chamados Serviços Ecossistêmicos. Esses serviços nada mais são que processos naturais que trazem benefícios para a espécie humana, como por exemplo a polinização. A polinização realizada por animais polinizadores, como as abelhas, os beija-flores e morcegos, é responsável pela reprodução de inúmeras espécies de plantas. Analisando esse serviço de forma ampla, podemos arriscar dizer que a polinização ajuda a manter as florestas em pé, evitando a extinção dessas espécies de plantas. Você consegue imaginar a quantidade de benefícios que a humanidade consegue obter por conta da existência das florestas?
Da mesma forma, outro motivo pelo qual deveríamos conservar a biodiversidade é por todos os recursos que utilizamos provenientes dela. Os recursos biológicos são úteis de diversas formas para a nossa espécie. Utilizamos a biodiversidade na alimentação: pesca, frutas e verduras, por exemplo. A utilização de madeira para construção de móveis e casas também uma forma de utilização de recurso biológico, afinal, madeiras são árvores. Além de tudo isso, inúmeros remédios conhecidos hoje têm seus princípios ativos provenientes da biodiversidade, como bactérias, animais e plantas.
O último ponto, e não menos importante, é pelo prazer que nos dá os organismos vivos. Quantas pessoas você conhece que gostam de visitar zoológicos ou ter plantas em casa? Com certeza muitas! Além disso, a maioria das pessoas se sentem bem em contato com a natureza, admirando belas paisagens, fazendo trilhas e etc. Temos tanto interesse em nos sentirmos próximos e conectados com o ambiente natural que o Ecoturismo movimenta milhões de dólares por ano ao redor do mundo.
A região Nordeste é um exemplo incrível de como a biodiversidade nos dá prazer. Mais especificamente, a Bahia, durante todo o ano, recebe milhares de visitantes do mundo inteiro, seja para visitar Fernando de Noronha, as praias do Sul da Bahia ou a Chapada Diamantina.
Agora já temos aqui estabelecidos quatro excelentes motivos para conservar a biodiversidade. E você, tentilhão curioso, já está pronto para argumentar a favor desta causa com quem quer que seja.
Texto escrito por Msc. Matheus Galvão Brito – publicado em setembro de 2020.
Imagem Destaque / 1 por Sofia Pusa
Imagem 2: Green Breasted Mango por Nature Press
Imagem 3: Chapada Diamantina
FRANKHAM, R.; BALLOU, J. D.; BRISCOE, D. A. Fundamentos de genética da conservação. Sociedade Brasileira de Genética, Ribeirão Preto, 2008.
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