Nas últimas décadas estudos têm apontado as consequências do crescimento populacional humano para a biodiversidade, principalmente em relação ao avanço da urbanização. Neste momento, existem quase 8 bilhões de pessoas na Terra, e até 2030, 2 bilhões estarão vivendo em áreas urbanas.
Quanto maior o número populacional de uma cidade, maior é o seu perímetro urbano. A cidade de São Paulo, por exemplo, tem mais de 11 milhões de habitantes vivendo na maior zona urbana do Brasil. Os números nos fazem imaginar o tamanho do impacto que grandes cidades, como SP, Tóquio ou Nova Iorque, podem causar à biodiversidade. Entretanto, existem espécies que acabam se dando bem nas áreas urbanas. Ratos, baratas, pombos etc. e inúmeras espécies de plantas são conhecidas como espécies cosmopolitas. Muitas dessas espécies nem mesmo são nativas da região, o que pode ser um problema para as espécies que são. Normalmente as espécies cosmopolitas são generalistas e conseguem aproveitar os recursos oferecidos em ambientes urbanos de forma mais eficiente do que as espécies nativas.
Apesar de considerarmos as cidades como um ambiente à parte do natural, muitos pesquisadores veem as áreas urbanas também como parte do todo. Suas características particulares, a diversidade biológica e as interações das espécies presentes fazem das cidades um verdadeiro ecossistema. Diferente dos ecossistemas naturais, as cidades são consideradas ecossistemas heterotróficos.
Para entendermos essa ideia, vamos pensar em um ecossistema natural como um organismo autotrófico (aquele que produz seu próprio alimento). Os ecossistemas naturais são autossustentáveis, pois produzem, utilizam e reutilizam seus nutrientes, fontes de energia e processos de manutenção. As cidades, por sua vez, não são capazes de produzir o que é necessário para que elas funcionem (matéria prima) e muito menos reutilizar tudo o que é resultado do consumo (o lixo e os resíduos), portanto não são autossustentáveis.
Para estudar as cidades como ecossistemas, surgiu a Ecologia Urbana e suas duas abordagens: a biológica e a antropocêntrica. A abordagem biológica (também chamada de ecologia NA cidade) diz respeito ao estudo dos processos biológicos que ocorrem dentro das cidades, como, por exemplo, a interação entre as espécies e o efeito da urbanização na biodiversidade em ambientes urbanos. A abordagem antropocêntrica (também chamada de ecologia DA cidade) tem como principal objetivo entender a relação humano x ambiente afim de melhorar as condições de vida da espécie humana nas cidades.
Para muitas pessoas parece absurdo considerar as cidades como ecossistemas, ou como um ambiente abundante em recursos para a biodiversidade. Entretanto, pesquisadores têm fomentado discussões nas últimas décadas sobre a utilidade das áreas urbanas como uma alternativa para conservação de algumas espécies. Com o habitat natural de muitas delas sendo degradado, as cidades passaram a ser uma fonte alternativa de recursos. Um exemplo claro disso são os polinizadores. Com a perda de habitat natural, muitas espécies de abelhas, borboletas, morcegos, dentre outros, têm “invadido” as cidades em busca de alimento e local para construir seus ninhos.
Se observarmos bem, as cidades são ricas em diversidade de plantas ornamentais com flores, principal fonte de alimento dos polinizadores. É um verdadeiro banquete! Além disso, muitas espécies podem encontrar locais para nidificarem nas cidades. Morcegos passam a viver nos telhados, forros e sótãos das casas, e abelhas constroem seus ninhos em espaços vazios nas paredes, árvores ornamentais e outras aberturas. Dessa forma, em todo mundo tem aparecido iniciativas em prol da conservação dos polinizadores nas cidades através de práticas de incentivo à jardinagem e instalação de tetos verdes.
Contudo, não podemos acreditar nas cidades como salvadoras da biodiversidade, e tira-las do posto principal de ameaça à diversidade biológica em todo o mundo. Entender as cidades como ecossistemas é apenas uma alternativa para contribuir com a conservação da biodiversidade que buscam refúgio e recurso nessas áreas. Conservação envolve muito mais que áreas verdes urbanas e cultivo de jardins em casa. Conservação envolve, acima de tudo, consciência ambiental das pequenas às grandes ações e mudanças.
Dica: Clique aqui para acompanhar, em tempo real, os estimadores de nascimentos e aumento da população mundial, além de outros dados.
Texto escrito por Matheus Galvão Brito — publicado em junho de 2020.
Imagem Destaque: United Nations Sustainable City Illustration por DKNG
Imagem 2: Deer por Dmitrij
Imagem 3: Fall in the City por Matt Carlson
OSMOND, Paul; PELLERI, Natalie. Urban ecology as an interdisciplinary area. 2017.
ENDLICHER, Wilfried et al. Urban ecology–Definitions and concepts. In: Shrinking Cities: Effects on Urban Ecology and Challenges for Urban Development. Peter Lang Publishing Group in association with GSE Research, 2007. p. 1-16.
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
Rua José Moreira Sobrinho, s/n
Bairro Jequiezinho – CEP 45.208 – 091
Campus Jequié