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Como a Amazônia impede a desertificação da América do Sul


Em algum momento da nossa vida já ouvimos em tom de afirmação ou questionamento a seguinte frase: “A Amazônia vai virar um deserto (?)”; mas será mesmo que isso pode acontecer com a maior floresta tropical da Terra? Muitas ações estão envolvidas para que possivelmente isso aconteça.

O continente sul-americano é privilegiado em relação a outras regiões do planeta, mesmo com grandes porções áridas como o Deserto do Atacama no Chile ou até mesmo a nossa Caatinga, a América do Sul é socorrida a milhares de anos por um fenômeno natural conhecido como “rios voadores”. Mas, ao contrário do que se possa imaginar, esses rios aéreos não são cursos d’água como estamos acostumados a enxergar em leitos de águas correntes no solo; na verdade são grandes massas água carreadas pelas nuvens desde a Amazônia para grande parte do continente.

Muitos fatores estão envolvidos no processo de desertificação, como empobrecimento do solo, desmatamento, assoreamento dos leitos dos rios, e entre eles, estão os efeitos causados pela chamada ‘célula de Hadley’, este fenômeno provoca locomoção de correntes de umidade devido à circulação de ar quente desde a linha do Equador até acima do hemisfério norte (na altura do paralelo 30°); essas correntes retornam ao solo com ar seco e com isso geram um ambiente mais árido e ressecado. Como resultados dessa ação podemos citar o Deserto do Kalahari no continente africano e o Deserto de Sonora nos EUA locais que são diretamente atingidos por essas correntes de ar mais seco.

Na América do Sul, alguns mecanismos agem para burlar os efeitos na circulação de correntes de ar seco. Grandes massas de umidade vindas do oceano se encontram com as formadas no coração do continente, tudo porque a floresta amazônica lança diariamente toneladas de umidade na atmosfera. Essas massas percorrem longas distâncias e chegam até aos Andes, retornando para dentro do continente ainda com mais chuva. Somando todos os fatores, é como se o continente possuísse um “escudo” contra o processo de desertificação. As grandes massas de água advindas da Amazônia dão origem aos rios aéreos que percorrem o continente sul-americano, essa estratégia mantém a umidade circulando por onde as correntes de umidade passam. Através delas bacias como Paraná-Rio da Prata se formam e até mesmo o Pantanal nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Mas como se formam o que chamamos “rios voadores”? Esse é um processo muito interessante e está interligado a uma outra região do planeta que fica a quilômetros de distância da Amazônia, o Deserto do Saara! As partículas de poeira viajam desde o deserto atravessando o Oceano Atlântico e chegam na floresta amazônica ricas em nutrientes como o fósforo essencial para seu desenvolvimento. Além disso essas partículas também conhecidas como aerossóis proporcionam as condições ideais para condensação do vapor d’água vindo da evapotranspiração da floresta.

Desta maneira, a região permanece sob uma “manta úmida” e não sofre tanto com os efeitos das correntes de ar seco formadas nas células de Hadley. E é esse o mecanismo que impede que a América do Sul se torne um imenso e seco deserto. Porém fica aqui o alerta: a Amazônia tem enfrentado nos últimos anos grandes incêndios que têm devastado enormes faixas de mata, e esse é problema que afeta diretamente a dinâmica que mantém de pé a floresta e também o desenvolvimento dos países sul-americanos. Cientistas tem insistido em alertar a todos sobre o possível e irreversível processo de desertificação que poderemos enfrentar caso a floresta continue a ser destruída e os ciclos que formam os grandes rios aéreos sejam afetados sendo o botão de ignição para formação de um deserto na América do Sul.

 


Texto escrito por Ramon Almeida Santos — publicado em julho de 2020.


Imagem 1/Destaque: Namib Desert por Febin Raj

Imagem 2: Stormy Water por Jacqui Oackley

Imagem 3: Desert por Thilak Eswaradoss

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