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Enriquecimento ambiental e comportamental e sua contribuição para a Conservação


Desde os primórdios da humanidade o homem utiliza espécies animais e vegetais para seu benefício, seja através de sua exploração direta ou domesticação, visando rendimento econômico ou pelo simples prazer que sua companhia nos traz. E é justamente na beleza, no exótico, na raridade, e em certas questões culturais, que mora o perigo da busca do ser humano por estes organismos, resultando na retirada e transporte, muitas vezes ilegais, de animais e plantas da natureza.

O tráfico de espécies e a caça têm um impacto enorme sobre populações naturais, podendo resultar em uma diminuição significativa no número de indivíduos ou, até mesmo, extinções locais. Como lidar com o tráfico e a caça ilegais é uma questão séria e que deveria ser amplamente discutida. Entretanto, neste texto, não abordaremos essas temáticas propriamente ditas, mas sim, como lidar com animais selvagens que foram retirados de seu ambiente natural. Esses animais que se encontram sob o cuidado dos órgãos ambientais são frutos de apreensões ou eram criados ilegalmente como animais de estimação.

Uma vez apreendidos, esses animais passam por um processo de soltura imediata ou são encaminhados a centros especializados no cuidado e manejo de fauna silvestre, como os CETAS (Centro de Triagem de Animais Silvestres) ou criadores especializados autorizados pelo IBAMA. Com o auxílio de profissionais especializados, esses órgãos auxiliam no tratamento e recuperação dos animais, permitindo que muitos sejam rapidamente encaminhados para programas de soltura. Entretanto, nem todos os animais apreendidos estão aptos ao retorno imediato a natureza, seja por apresentarem lesões incapacitantes ou por apresentarem comportamentos atípicos, resultado do nascimento em cativeiro ou da vida junto a seres humanos.

Para que estes animais possam ter uma chance de retorno a natureza, precisam aprender a “serem selvagens novamente”, isso quer dizer: aprenderem comportamentos típicos de sua espécie e principalmente, a manter distância do ser humano. Estratégias que vêm sendo bem sucedidas neste aspecto são o enriquecimento ambiental e o enriquecimento comportamental, utilizados em zoológicos e centros de criação animal para melhorar a qualidade de vida de animais em situação de cativeiro.

O método de enriquecimento ambiental reúne uma série de ações que podem ser aplicadas para modificar o ambiente em que o animal se encontra a fim de proporcionar condições que melhorem seu bem estar físico e fisiológico. Somado a isso temos o enriquecimento comportamental, que visa trabalhar o repertório comportamental característico de cada espécie, buscando diminuir a presença de comportamentos alterados. Essas ações, que abrangem principalmente aspectos físico, social, sensorial, cognitivo e alimentar, tem obtido resultados bem positivos para animais cativos, como grandes carnívoros e aves encontrados em zoológicos e parques ecológicos.

Ao melhorar a qualidade de vida de animais cativos a chance de se obter um maior sucesso reprodutivo aumenta e, com isso, a quantidade de animais que podem retornar a natureza aumenta também. O processo de enriquecimento comportamental é fundamental para que esses animais tenham sucesso em seu retorno às condições naturais. Possuir comportamentos típicos de sua espécie contribuem para aumentar suas chances de sobrevivência, seja pela capacidade de encontrar alimento e parceiros, seja por conseguir ser incluído em uma convivência social (quando pertinente) ou seja aprendendo a evitar o ser humano. Alguns exemplos conhecidos de reintrodução após readaptação envolvem grandes felinos e grandes primatas, como gorilas e chimpanzés.

Aumentar as chances de sucesso da reintrodução ou a quantidade de indivíduos em cativeiro é fundamental para o processo de conservação de espécies animais, principalmente espécies ameaçadas. Vários programas conservacionistas utilizam o enriquecimento ambiental e comportamental dentre as múltiplas estratégias que adotam. É importante ressaltar que estes processos são específicos para cada espécie e dependem, diretamente, da disponibilidade de profissionais especializados e recursos para ter sucesso.

 


Texto escrito por Dra. Caroline Garcia — publicado em julho de 2020.


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Imagem 3: Significant Otters por Irina Mir

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