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O papel de um zoológico na sociedade


As ações do homem têm promovido impactos ambientais em escalas alarmantes, tornando-se imprescindível a elaboração de estratégias direcionadas, que minimizem os danos à natureza e possam gerar resultados que impactem diretamente na maneira que a sociedade coexiste com a biodiversidade. Frente a essa problemática, os Zoológicos têm desenvolvido consideráveis trabalhos nas áreas de conservação, educação e pesquisa, três importantes pilares que justificam sua existência. O fato é que essas instituições trazem consigo o peso do estigma de sua criação, onde no século XVIII, através da captura de animais, foram criados os primeiros zoológicos do mundo para atender os desejos egocêntricos da elite.  

A discussão em torno do assunto é extremamente válida, tendo em vista que a causa animal ganha cada vez mais destaque, principalmente com as novas gerações, que, fazendo uso da facilidade do acesso à informação, vem aprimorando sua consciência em relação ao tema, com a possibilidade de desenvolver opiniões embasadas, propondo um debate profundo que estimule o pensamento crítico. Mas nem sempre isso acontece, na ânsia de ter sempre uma opinião acerca do assunto, ou no imediatismo inerente a essa facilidade de informações, muitas vezes o debate se dá de forma irresponsável e leviana, repleto de achismos, menosprezando dados técnicos e científicos, limitando a discussão com argumentos rasos.

Se no passado, o egocentrismo e a busca por lazer justificou a criação dos zoológicos, hoje, a manutenção dessas instituições vai muito além. Em uma escala global, os zoológicos são uns dos principais responsáveis para a conservação e já salvaram inúmeras espécies da extinção, como por exemplo: o condor-da-califórnia, mico-leão-dourado, cavalo-de-przewaski, orix-da-arábia, grou-americano e várias outras espécies.

Segundo a Waza (World Association of Zoos and Aquariums), a comunidade de zoológicos e aquários tem a maior rede de conservação em potencial do mundo, recebendo mais de 700 milhões de visitantes por ano. Esses espaços desenvolvem ações que visam impactar de forma positiva, adultos e crianças para tornarem-se agentes multiplicadores das questões ambientais, visando o desenvolvimento sustentável.

A educação ambiental tem papel fundamental na mudança de paradigmas, conscientização, sensibilização e na construção de uma sociedade sustentável, promovendo ideias e ações que incentivem o respeito à natureza, buscando a harmonia do homem e do meio ambiente, entendendo a importância da biodiversidade.

Zoológicos e aquários também podem contribuir infinitamente com a pesquisa, preenchendo uma lacuna sobre o conhecimento da vida selvagem devido ao acesso limitado aos animais na natureza, ambientes inacessíveis, a dificuldade de monitorar populações nesses ambientes e diversos outros fatores. O Acesso das populações dos animais mantidos sob cuidados humanos nessas instituições fornecem informações e parâmetros que auxiliam na manutenção dessas espécies em um ambiente controlado e também em seu meio natural.

Mas será que todos os zoológicos desempenham esses papeis?

É claro que temos muito que melhorar. Costumo dizer que os zoológicos são espelhos de uma sociedade doente, é nele que se refletem várias questões que muitas vezes não queremos enxergar, como o tráfico de animais, os atropelamentos de fauna, o desmatamento, a caça, a extinção. Talvez seja por isso que, para algumas pessoas, seja tão difícil defender a existência dessas instituições. Quando os zoos abrem a porta para o público, também o coloca frente a questões delicadas e dolorosas, mas ignorar essas questões não resolve os problemas, muito pelo contrário.

O público é um importante ator nesse processo, pois também pode agir como agentes fiscalizadores dessas instituições, fazendo com que, assim, possamos aprimorar, de forma conjunta (zoos, aquários e sociedade), o trabalho desenvolvido.

Um recente acontecimento no Distrito Federal, que chamou muito atenção, inclusive da mídia nacional, foi o resgate da naja, animal exótico que mordeu um estudante de medicina veterinária. A naja em questão está provisoriamente no Zoo de Brasília. Mesmo o acolhimento de animais oriundos de tráfico não ser uma função prioritária de um Zoológico, a Instituição assume essa responsabilidade. Com uma equipe dedicada, não mede esforços para a proteção do animal, cuidando da segurança, manutenção e do seu bem estar.

O fato não é inédito, em 2017 uma naja também foi encontrada em uma subestação de esgoto em Santa Catarina, na época, quem deu todo o suporte inicial ao animal, antes de sua transferência para o Instituto Butantan, foi o Zoo de Balneário Camboriú. É importante lembrar que a manutenção dessa espécie, mesmo que por um curto período, é complexa, tendo em vista que é um animal peçonhento, com um considerável risco de acidente e mesmo assim dois zoológicos assumiram essa responsabilidade.

Há quem diga que zoológicos exploram os animais para o entretenimento, mas prefiro pensar que essas instituições aproveitam a busca da sociedade para o lazer e conexão com a fauna para promover a educação ambiental, e assim, subsidiar a pesquisa e a conservação em prol da biodiversidade.

Diante de todas essas questões levantadas, gostaria de propor mais uma reflexão.

Qual o valor dos Zoológicos na Sociedade?

 


Texto escrito por Cezar A. Santos (@cezarbiologo) – publicado em julho de 2020.


Imagem 1/Destaque: Zoo por AHou 

Imagem 2: Cezar A. Santos

Imagem 3: Cezar A. Santos 

Imagem 4: Danilo Costa (@danielobiologo)


A história dos zoológicos, Luiz Antonio da Silva Pires – www.coletiva.labjor.unicamp.br

Zoos: Capacitaçãoe integração, primeiros passos de um longo caminho – Yara de Mello Barros e Carmel Croukamp Davies – www.oeco.org.br

WAZA – World Association Of Zoos and Aquariums; disponível aqui.

Mergulhão, M.C; Vasaki, B.N.G. EDUCANDO PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA: sugestões de atividades em Educação Ambiental: 2. Ed. São Paulo: Editora Educ, 2002

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