Quando você pensa em ecologia, o que vem à mente? Ações para preservação do meio ambiente? Respeito pelos seres vivos? Economia de água? coleta seletiva do lixo? Acontece que a ecologia propriamente dita vai muito além disso. A ecologia é uma ciência que estuda os seres vivos, as interações entre eles e com meio abiótico (radiação solar, temperatura, chuvas, solo etc.). Tudo isso é fundamental para que a sociedade conheça a biodiversidade e a contribuição de cada ser vivo no planeta.
Apesar da preocupação com os seres que existem no nosso planeta, é importante conhecer a história de como estas formas de vida chegaram até o presente. Sabia que é possível descobrir as relações entre plantas e animais pré-históricos, que viveram há milhões de anos, com o ambiente em que eles viviam? Esse é o objeto de estudo da Paleontologia!
A Paleontologia usa conhecimentos da geologia e da biologia para estudar o passado da vida na Terra. Isto é feito por meio de restos e evidências de atividades de seres que já morreram há, no mínimo, 11 mil anos, e ficaram preservados ao longo do tempo em rochas, gelo, âmbar, etc. Estes restos e evidências são conhecidos como fósseis. Os fósseis podem ser pegadas de dinossauros, cropólitos (fezes), ossos de mamíferos gigantes, conchas, pedaços de troncos e muito mais. Por meio deles podemos sugerir a ocorrência de fenômenos naturais ao longo do tempo, como o surgimento da vida e a influência do ambiente na evolução das espécies.
A Paleontologia de animais vertebrados é a área que mais chama atenção da sociedade e, portanto, a mais estudada. Um reflexo disso, é que os animais gigantes são os que mais aparecem na divulgação de estudos paleontológicos. É nesta área que se estudam os mamutes, preguiças-gigantes, tatus-gigantes, o tigre-dente-de-sabre, tubarões megalodon e até os dinossauros. Para estudarem a ecologia destes animais, os paleontólogos desenvolvem pesquisa em uma área chamada de Paleoecologia, que usa os fósseis para investigar as relações entre os organismos e o meio ambiente passado.
Existem áreas de estudo que servem como suporte para os estudos paleoecológicos dos animais pré-históricos. Algumas delas são: o estudo da biomecânica, os processos tafonômicos, a análise de microdesgaste dentário e a análise de isótopos em ossos e dentes. A Biomecânica se refere ao estudo da mecânica dos seres vivos, baseando-se na engenharia e na física. Com a biomecânica, os pesquisadores podem reconstruir a biologia de animais extintos, indicando como eram seus modos de vida por meio da estimativa de massa corporal (peso), tamanho e mecânica óssea dos membros, além da mecânica do aparelho mastigatório. Isto pode ser estimado por meio de medidas específicas de partes do esqueleto fóssil.
A tafonomia estuda todos os processos desde a morte do organismo até o momento em que o fóssil é encontrado. Dentro da tafonomia, podemos estudar os processos físicos, químicos e biológicos envolvidos na morte do animal. Por meio dela, o pesquisador consegue identificar se a morte ocorreu de forma natural, por envelhecimento, doenças, predação ou se ocorreu de forma catastrófica por soterramento, enchente, ação vulcânica, etc. A análise da biostratinomia (parte da morte até o momento em que os restos são enterrados) revela pontos importantes sobre o tempo de vida do animal e o que ocorria no ambiente a partir do momento em que entrou no processo de fossilização.
Se quisermos saber sobre os hábitos alimentares dos animais extintos, a análise de microdesgaste dentário é uma ótima ferramenta. De acordo com a forma que o dente fóssil está gasto, é possível identificar que tipo de carnívoro está sendo estudado. E dependendo das perfurações e arranhões registrados nos dentes dos fósseis, é possível identificar se o animal tinha uma dieta baseada em alimentos ricos em fibras ou não, quando se trata de herbívoros. Deste modo, é possível sugerir que tipo de vegetação existia no local em que os animais viveram, e assim resgatar informações sobre o ambiente e o clima.
Outra forma de descobrir sobre a alimentação dos gigantes pré-históricos é a análise de isótopos por meio dos dentes ou ossos. Isótopos são átomos de um elemento químico, que diferenciam entre si no número de massa. Tudo o que o animal consomem ao longo da sua vida fica registrado nos dentes e ossos. Se ingerem água, plantas, presas, tudo é registrado em forma de elementos químicos.
Os isótopos do elemento Carbono, por exemplo, são bastante úteis em datações e estimativa de dieta. Assim, podemos saber em qual período do tempo geológico o animal ou vegetal viveu, e o tipo de vegetal ou presa que foi consumida. Outro isótopo bastante utilizado é o Oxigênio. Ele permite saber se o ambiente estava seco, úmido, frio ou quente na época em que o animal teve seus últimos anos de vida.
Todas estas análises permitem visualizar a fauna e a flora do passado, como os animais interagiam entre si, como ocorriam as mudanças ambientais e a influência dos fatores abióticos. Este processo é chamado de reconstrução ambiental. Ainda não inventaram uma máquina, mas, por enquanto, é assim que nós podemos viajar no tempo!
Texto escrito por Verônica Santos Gomes – publicado em agosto de 2020.
Imagem 1/Destaque: Dino Discovery por Sara Lynn Cramb
Imagem 2 e 4: Dantas et al. (2020)
Imagem 3: triceratops por Pako
ASEVEDO, L., WINCK, G. R. MOTHÉ, D., AILLA, L. S. 2012. Ancient diet of the Pleistocene gomphothere Notiomastodon platensis (Mammalia, Proboscidea, Gomphotheriidae) from lowland mid-latitudes of South America: Stereomicrowear and tooth calculus analyses combined. Quaternary International.
BARGO, M. S. 2003. Biomechanics and palaeobiology of the Xenarthra: the state of the art. Senckenbergiana biologica, 83(1), 41-50.
BOCHERENS, H., & DRUCKER, D. G. 2013. CARBONATE STABLE ISOTOPES| Terrestrial Teeth and Bones.
CASSAB, R. De. C.T. 2010. Objetivos e princípios. Paleontologia, v. 3, p. 3-11, 2010.
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
Rua José Moreira Sobrinho, s/n
Bairro Jequiezinho – CEP 45.208 – 091
Campus Jequié