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Para ser cientista você precisa não saber as respostas


Há alguns anos, li pela primeira vez o texto “The importance of stupidity in scientific research” (A importância da estupidez na pesquisa científica, em tradução livre), escrito por Martin A. Schwartz e publicado no periódico científico Journal of Cell Science. Desde então, minha percepção sobre ser cientista se tornou diferente. Este é um daqueles textos que comentam sobre o óbvio ao qual você nunca parou para pensar sobre.

Martin nos conta que encontrou uma amiga do doutorado, que lhe disse que desistiu da pós-graduação e se tornou advogada porquê estava cansada de se sentir estúpida todos os dias. E depois disso, ele percebeu que também se sentia assim. A explicação dele é que quando estamos na escola, por exemplo, ser bom em Ciências significa responder as perguntas corretamente nas provas. Ele diz: “Se você conhece essas respostas, você se sai bem e se sente inteligente”.

Deixo vocês agora com as palavras de Martin (em tradução livre), contando a história que o fez perceber sua profissão de cientista de uma maneira diferente:

“Um doutorado, no qual você tem que fazer um projeto de pesquisa, é uma coisa totalmente diferente. Para mim, foi uma tarefa difícil. Como eu poderia formular as questões que levariam à descobertas significativas; planejar e interpretar um experimento de modo que as conclusões fossem absolutamente convincentes; prever as dificuldades e encontrar meios de contorná-las ou, na falta disso, resolvê-las quando surgirem? O meu projeto do doutorado era um tanto interdisciplinar e, por um tempo, sempre que havia um problema, importunava os professores do meu departamento que eram especialistas nas várias disciplinas de que precisava. Lembro-me do dia em que Henry Taube (que ganhou o Prêmio Nobel dois anos depois) me disse que não sabia como resolver o problema que eu estava tendo em sua área. Eu era um estudante de pós-graduação do terceiro ano e Taube sabia cerca de 1000 vezes mais do que eu (estimativa conservadora). Se ele não tivesse a resposta, ninguém tinha.

Foi então que me dei conta: ninguém sabia. Por isso era um problema de pesquisa. E sendo meu problema de pesquisa, cabia a mim resolvê-lo. Depois de enfrentar esse fato, resolvi o problema em alguns dias. (Não foi realmente muito difícil; eu apenas tive que tentar algumas coisas.) A lição crucial foi que a quantidade de coisas que eu não sabia não era apenas vasta; era, para todos os efeitos práticos, infinita. Essa percepção, em vez de ser desanimadora, foi libertadora. Se nossa ignorância é infinita, o único curso de ação possível é nos arrastarmos da melhor maneira possível.

Este é o óbvio que talvez você nunca parou para refletir sobre. Ser cientista, na verdade, não é saber as respostas, é procurar responder perguntas que ainda não foram respondidas e explicar fenômenos que ainda não foram compreendidos. Você já deve ter ouvido a frase clássica daquela propaganda de TV: “as perguntas movem o mundo”. Para Martin, ser movido pela busca de respostas é ser um “estúpido produtivo”. E se você não se sente estúpido, você não está realmente tentando, afinal, ninguém sabe todas as respostas.

Deixarei que Martin explique para vocês:

“Estupidez produtiva significa ser ignorante por escolha. Focar em questões importantes nos coloca na posição incômoda de ser ignorantes. Uma das coisas bonitas sobre a Ciência é que ela nos permite tropeçar, errando sempre, e nos sentirmos perfeitamente bem, contanto que aprendamos algo a cada vez. Sem dúvida, isso pode ser difícil para alunos que estão acostumados a obter as respostas certas. Sem dúvida, níveis razoáveis ​​de confiança e resiliência emocional ajudam, mas acho que a educação científica pode fazer mais para facilitar o que é uma transição muito grande: aprender o que outras pessoas uma vez descobriram para fazer suas próprias descobertas. Quanto mais à vontade nos sentimos sendo estúpidos, mais nos aprofundamos no desconhecido e mais provável que façamos grandes descobertas.”

Afinal, é a vontade de saber sobre o que se desconhece que motiva a busca por conhecimento!

 


Texto escrito por Msc. Matheus Galvão Brito – publicado em setembro de 2020


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