• Vitória da Conquista, 08 de maio de 2024
Jornalismo Impresso

O OURO BRANCO DO OESTE BAIANO

Por: Carolina Lapa

A produção algodoeira do Oeste baiano tem sido destaque no Brasil e no mundo pela qualidade das fibras produzidas e pela responsabilidade socioambiental empregada em toda cadeia produtiva do algodão.

Lavoura de Algodão, Fazenda Santo Antônio, município de Luís Eduardo Magalhães – Agosto 2022. Foto Abapa

 

O Oeste Baiano é o segundo maior produtor de algodão do Brasil, com índices de produtividade média entre os maiores do mundo. Luís Eduardo Magalhães é um dos municípios mais novos, senão caçula da chamada Matopiba – nome dado à região que corresponde aos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, grandes produtores rurais. Pelo ranking nacional de produção da Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa), o estado da Bahia está apenas atrás do estado do Mato Grosso, contribuindo com 20% nas exportações  de algodão, o equivalente a 40% de toda a produção do estado. 

A alta qualidade da pluma do algodão está associada aos resultados das pesquisas de ponta; como a melhoria genética da planta, do solo, das técnicas de plantio e um rigoroso processo de manejo do solo. Tudo isso somado ao cuidado e entrega dos produtores baianos nesse processo,  aliado às condições favoráveis do clima e do solo do cerrado.  Chegar a esse patamar foi possível, antes de tudo, pela mudança de mentalidade do cotonicultor da Bahia.

Há mais de duas décadas, a Associação Baiana de Produtores de Algodão (Abapa) representa os cotonicultores baianos, essa transformação é, ao mesmo tempo causa e consequência da organização do setor, o que mobiliza a criação de instituições fortes de representação para a defesa dos interesses da cotonicultura, visando o seu desenvolvimento e fortalecimento.

 

CONSTRUINDO VALORES E QUALIDADE 

O Programa Fitossanitário é um dos mais importantes pilares da cotonicultura, pois monitora o inseto bicudo do algodoeiro, praga que há cerca de duas décadas dizimou as lavouras e quase pôs fim a produção de algodão, especialmente a nordestina. Além do bicudo, as equipes do programa da Abapa também monitoram outras pragas e doenças, a exemplo dos nematóides e da ramulária, vermes e fungos que atacam a planta.

Outro programa de grande relevância é a certificação Algodão Brasileiro Responsável (ABR), feito pela Abrapa e adotado pela Abapa, que contém oito critérios a serem observados e avaliados para garantir o rastreamento e qualidade do algodão que é entregue para o consumo. A saber: Contrato de trabalho; proibição do trabalho infantil; proibição de trabalho análago a escravidão ou em condições degradantes ou indignas; liberdade de associação sindical; proibição de discriminação de pessoas; segurança, saúde ocupacional e meio ambiente do trabalho; desempenho ambienal e boas práticas agrícolas. 

O mais completo programa de certificação de plumas sustentável do mundo, baseia-se totalmente nas legislações trabalhistas e ambientais no Brasil. Graças a essa iniciativa, o país se consagrou como o maior fornecedor mundial de algodão produzido em bases sustentáveis, com participação em torno de 36% em todo o montante licenciado pela ONG Suiça Better Cotton Initiative (BCI). Ao atuar em benchmarking (analisando estratégias e aplicando as melhores práticas da empresa do setor) com a BCI, que age em mais de 80 países, a ABR alcançou credibilidade internacional em sua certificação e hoje, mesmo sem ser obrigatória, 88,6% da produção baiana é certificada, devido ao seu diferencial de mercado. 

Você está usando algo de algodão agora? Pode não parecer, mas ao contrário do que muitos pensam, vários produtos de uso diário estão diretamente relacionados. Roupas, atadura, maquiagem, óleos comestíveis, margarina, ração animal, telas de celulares e computadores. Todos eles podem ser produzidos a partir do algodão. Essa fibra significa renda para muitas pessoas dentro do processo produtivo, que vai desde a cotonicultura, que é o cultivo do algodão, até o consumo dos produtos derivados.

Para chegar às roupas que vestimos no dia-a-dia como a calça jeans e a camiseta que não abrimos mão de usar, o processo ainda é longo. Ou seja, tudo começa com a melhoria da semente, plantio e colheita. A fibra é submetida a várias fases de processamento até a entrega das plumas e demais derivados do algodão para as indústrias têxtil, de alimentos, automotiva, de saúde e tecnologia. O principal produto do algodão é a sua fibra, é necessário ter um alto padrão de qualidade. O  certificado de qualidade é desenvolvido pelo laboratório de análise. Para este processo, é preciso manter a umidade do algodão, por isso o  ambiente deve ser obrigatoriamente climatizado para estar dentro dos padrões. O laboratório onde é feito este processo, é o Centro de Análise de fibra, considerado o maior da América Latina, e por dia são feitas de 25 a 30 mil análises. Garantindo segurança para quem compra e quem vende o algodão. 

 

Interior do Centro de Análise de Fibras, em Luís Eduardo Magalhães. Foto Abapa 

 

PROGRAMA SOU DE ALGODÃO 

Para incentivar o uso do algodão, foi criada, há seis anos, a campanha Sou de Algodão. A iniciativa da Abapa com apoio do Instituto Brasileiro de Algodão (IBA) nasce devido à queda, nos últimos 40 anos, do número de pessoas que usam roupas feitas dessa fibra. As principais estratégias utilizadas foram o reconhecimento da importância de todos os elos da cadeia produtiva – desde a produção até a venda – e a preocupação com todos os segmentos do mercado, com maior ou menor tamanho. Conteúdos foram lançados na internet e, com a ajuda de digital influencers e grandes marcas, as redes sociais do movimento tiveram aumento de seguidores, visualização dos conteúdos e de interações. Todas essas estratégias têm como objetivo estimular o aumento do consumo do algodão rastreável, o que se traduz em cuidado com o meio ambiente, pois é uma fibra natural e biodegradável. 

Júlio Cézar Busato, Presidente da Abrapa. Fonte ABAPA – Reprodução Instagram

 

Em meio aos desafios na exportação, é certo que o algodão do oeste baiano já se destaca no mercado internacional por sua brancura, qualidade da fibra e controle rigoroso da qualidade. Reflexo de um solo mais arenoso do que argiloso e da grande incidência de luz na lavoura, a cor do algodão baiano despertou a cobiça de compradores nacionais e internacionais, o que agregou um valor maior ao produto.

Cada fardo de algodão produzido no Brasil tem um “RG”: a etiqueta do Sistema Abrapa de Identificação (SAI) com um código de barras. Com ela, pode-se rastrear com exatidão desde a fazenda onde foi produzido, à usina na qual foi beneficiado, e ter acesso a uma série de informações, como a classificação nos índices de análise instrumental por High Volume Instrument (HVI). O sistema surgiu em resposta às exigências do mercado externo sobre a origem do algodão nacional. Para uma etiqueta com código de barras, amostras de pluma e fardos são rastreados pelo sistema, fornecendo todos os dados relacionados a sua origem e comercialização com agilidade, transparência e segurança de informações para os usuários. 

O algodão trouxe muito desenvolvimento e oportunidades para a cidade de Luís Eduardo Magalhães e para a região Oeste da Bahia. O que para alguns pode significar apenas um utensílio, representa para quem trabalha diretamente com ele o sustento da família, a construção de uma vida ou até mesmo a realização de um sonho. O algodão agrega valor e gera empregos e renda para a região. Como disse Alessandra Zanotto, presidente da Zanotto Cotton e vice-presidente da Abapa, “a produção de algodão é uma área que exige profissionalismo, sustentabilidade e empreendedorismo”. É difícil imaginar um momento em que não tenhamos ao menos uma peça de algodão em nosso corpo, quem dirá em nossas casas. Ainda com toda informatização e o imaginário de um futuro cada vez mais urbano, o essencial continua vindo do campo.

 

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