• Vitória da Conquista, 19 de maio de 2024
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Produção de algodão no Oeste baiano se destaca graças a presença de pesquisa de ponta, tecnologia e inovação

Por Tiago Lima

 

A Bahia é o segundo maior produtor de algodão do Brasil. Essa posição no país é ocupada pelos baianos desde a safra 2003/2004, em um ranking liderado pelo estado do Mato Grosso. Só no ano de 2021, última safra concluída, os produtores baianos plantaram uma área de aproximadamente 267 mil hectares. O resultado foi uma produção em pluma de quase 518 mil toneladas e uma produtividade de cerca de 316 mil arrobas por hectare.

A cotonicultura baiana tem como principal característica a presença da tecnologia e o investimento em pesquisa e inovação. Essa característica é fruto do trabalho realizado pela Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) em parceria com inúmeras organizações públicas e privadas. Entre essas organizações, destacam-se as universidades públicas e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), empresa pública ligada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) do Governo Federal.

Para o agrônomo e professor do curso de Agronomia da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Jorge da Silva Júnior, do campus de Barreiras, a presença das universidades públicas junto a associações como a Abapa é “extremamente importante”. Ele, que atua na área da pesquisa há cerca de vinte anos, defende que essas associações são o principal elo entre a academia e o produtor. “É o produtor rural que demonstra para os cursos da nossa área quais são as principais demandas que existem no campo”, explica. “E dentro dessas demandas, a gente procura estruturar as nossas grades curriculares, definir quais as principais temáticas [a serem trabalhadas] e determinar quais as orientações de foco para cada curso”.

Professor Jorge da Silva Júnior em palestra na Fundação Bahia. Foto: Assessoria da Abapa.

 

Júnior afirma que são justamente os resultados dessas pesquisas que vão direcionar as fazendas e toda a cadeia produtiva da cotonicultura baiana no futuro. Segundo ele, nos dias de hoje, as práticas de cultivo e manejo no Oeste baiano ainda seguem recomendações da Embrapa, que são voltadas para regiões como São Paulo e Minas Gerais. Com o avanço dos estudos que estão sendo feitos através das parcerias entre as universidades públicas e as instituições privadas, será possível ter recomendações voltadas especificamente para essa região.

Segundo dados da Abapa, apenas 5,5 mil hectares da área destinada à cotonicultura na Bahia estão na região Sudoeste do estado, o que equivale a menos de 2% do total. Os outros 98% localizam-se, justamente, na região Oeste. Por isso, conforme explica o professor Jorge, as pesquisas voltadas para a região tornam-se ainda mais significativas.

Muitas das pesquisas amparadas pela Abapa são realizadas nos laboratórios da Fundação Bahia, outra instituição importante para o contexto da produção algodoeira baiana. Situada na cidade de Luís Eduardo Magalhães – BA, em seu site oficial, ela se apresenta como uma entidade sem fins lucrativos que tem o objetivo de gerar informações para atender as necessidades dos produtores da região oeste do estado. Para isso, realiza um amplo programa de pesquisa, com ênfase nas culturas da soja, milho, café e algodão.

Centro de Análises de Fibras da Abapa. Foto: assessoria da Abapa.

 

Além de receber apoio da Abapa e da Embrapa, a Fundação Bahia também conta com um aporte financeiro de outras organizações ligadas ao agronegócio, como a Aiba (Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia). Além disso, atua em conjunto com o Governo do Estado, por meio da Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB), e com o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), do Governo de São Paulo.

Em adição ao fato de fazer parte do sistema que abrange as universidades públicas e privadas, a Abapa e outras instituições, a Fundação Bahia também é mantida com recursos do Fundeagro. Esse fundo foi criado em 2002, como parte do Programa de Incentivo à Cultura do Algodão (Proalba) desenvolvido pela Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura (Seagri) do governo do estado. Os recursos do Fundeagro equivalem a 10% do total de 50% de isenção que o Proalba concede ao produtor algodoeiro no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) nas operações de comercialização do produto no mercado interno, desde que o produtor atenda a requisitos tecnológicos, fitossanitários e de qualidade estabelecidos (Lei nº 7.932/2001 e Decreto nº 8.064/2001).

Para a engenheira agrônoma e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Agronomia (Fitotecnia) da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Maria Aparecida Castellani, a Abapa e a Fundação Bahia “são organizações que se caracterizam pela seriedade e inovação de suas ações”, que são “determinantes para o desenvolvimento do agronegócio na Bahia”. De acordo com ela, que também atua na Graduação em Agronomia da UESB em Vitória da Conquista e é Mestra e Doutora na área, é imprescindível ao pesquisador se aliar a essas organizações, tanto para o levantamento das demandas de pesquisa quanto para o desenvolvimento de produtos e técnicas que possam cada vez mais levar à sustentabilidade.

Professora Maria Aparecida Castellani no 13º Congresso Brasileiro de Algodão. Foto: arquivo pessoal/Instagram.

 

Castellani recorda que a agricultura vem passando por grandes transformações nos últimos tempos. “A agricultura deixou de ser apenas produção e comercialização de um determinado produto, e hoje é um cenário complexo de muitas interações, negócios e serviços, que devem ser norteadas pelas exigências dos consumidores brasileiros e estrangeiros. Esses consumidores buscam cada vez mais produtos de qualidade, sem resíduos de agrotóxicos, com preocupações ambientais e sociais”. Ela também conta que tem atuado diretamente com a Abapa e a Fundação Bahia no desenvolvimento de projetos de pesquisa e extensão.

“Recentemente, a Abapa, através do Fundeagro, investiu um grande aporte de recursos para um projeto de pesquisa sobre o bicudo-do-algodoeiro, com envolvimento de pesquisadores e alunos da UESB, inclusive com bolsas de estudos para estudantes da graduação e pós-doutorado”, afirma. Ela também enuncia que foram gerados diversos conhecimentos científicos sobre a praga, e que os trabalhos foram apresentados nos Congressos Brasileiros de Algodão e de Entomologia, recentemente realizados, e que, em breve, serão repassados aos cotonicultores. “Vários aspectos relacionados à sobrevivência do bicudo na entressafra, destruição de restos de cultura, resistência da praga a inseticidas, foram concluídos com esse apoio recebido”, comenta.

Outra característica da cotonicultura é o fato de que não há desperdício em nenhuma das partes do algodão. A zootecnista e professora do Instituto Federal do Pará (IFPA), Tamires Magalhães, desenvolveu a sua tese de doutoramento em Zootecnia na Universidade Federal da Bahia (UFBA) com o título “Caroço de algodão integral ou moído e quitosana em dietas para cordeiros”. Esse trabalho não teve relação com a Abapa, a Fundação BA ou o Fundeagro, sendo financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), entidade ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) do Governo Federal. Contudo, voltado para a melhora da qualidade da carne de carneiro e da saúde da população consumidora, com uma diminuição dos problemas coronários (“de coração”) e de doenças como o câncer, ele reforça a importância do investimento público em educação, pesquisa e inovação, o que se passa, também, pelas pesquisas na área da cotonicultura.

A professora defende o investimento do Estado nas instituições públicas de fomento à pesquisa, como o Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) — vinculada ao Ministério da Educação (MEC) do Governo Federal — e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb) — ligada à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado da Bahia (SECTI). Ao mesmo tempo, ela também descreve, com entusiasmo, a combinação entre o poder público e a iniciativa privada como perfeita. “É uma forma de a gente poder colocar no mercado profissionais de qualidade, que estejam preparados para trabalhar em qualquer tipo de instituição”, argumenta. Magalhães ainda recorda que os estudantes também contam com um orientador quando têm a oportunidade de atuar em pesquisas ou fazer estágios em instituições privadas, e que essa experiência é importante, porque possibilita a eles ter uma visão diferenciada e muito mais ampla dos processos produtivos e do mercado.

Tamires, que fez a graduação e o mestrado em Zootecnia na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) afirma que a pesquisa nas universidades perpassa principalmente pelas bolsas de amparo, que dão aos alunos a possibilidade de se dedicar integralmente a esse ofício, pois não há como se fazer isso quando eles precisam desenvolver outras atividades em busca de remuneração. Ela lembra que a pesquisa também é um tipo de trabalho, que deve ser reconhecido pela sociedade e, que ao mesmo tempo, precisa dar um retorno a ela, que o financia por meio dos impostos. A missão assumida pela Abapa, por meio do Fundeagro, em conjunto com a Fundação Bahia, as universidades públicas e privadas e outras organizações, com o investimento em pesquisa voltada à cotonicultura baiana, cumpre esse papel e dá um retorno aos produtores e consumidores, que têm uma variedade cada vez maior de produtos cada vez melhores.

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