Simpósios

  1. Marcadores sociais de diferença na interface entre Psicologia e Educação

Este simpósio temático busca discutir, a partir da problematização dos marcadores sociais de diferença na trajetória dos sujeitos, maneiras pelas quais são constituídas suas subjetividades e interconexões sociais para enfretamento e desestabilização da norma branca cis-heteronormativa jovem e sem deficiência. Utilizando-se de instrumentos teórico-analíticos que possibilitem debates que contemplem uma leitura crítica sobre sexualidade enquanto fenômeno sócio-histórico, buscando problematizar a relação entre gênero, raça, sexualidades, corporalidades, capacidade, geração e territorialidades; a fim de refletir suas histórias, ideologias, sistemas econômicos e estruturas políticas, tendo como base os estudos feministas, queer e decoloniais na interface com a temática da Psicologia e da Educação. Discutindo ainda questões sobre a produção de identidades e das diferenças sexuais e de gênero na sociedade, questões referentes ao racismo, ao capacitismo, ao machismo, ao feminicídio, à LGBTQIA+fobia, aos feminismos, às masculinidades, às dissidências sexuais e de gênero, aos colonialismos, à xenofobia, à intolerância religiosa, ao especismo, aos sistemas de produção e reprodução, à regulação social, às desigualdades socioeconômicas e outros. Dessa forma, pretende-se apresentar e discutir as teorias, conceitos e questões epistemológicas e metodológicas que vêm se debruçando sobre a trajetória de corpos que escapam das normas de sexo e gênero e do ideal branco jovem sem deficiência. Possibilitando o estudo de referenciais teóricos atualizados que despertem para a compreensão das questões de raça, classe, gênero, corpo e sexualidades como construções culturais, políticas e sociais. Promovendo, por fim, um espaço para a reflexão de estratégias que alcancem a compreensão de questões identitárias e de diferenças sociais como construções políticas e culturais.

 Gênero, Orientação Sexual e Identidade de Gênero sob a perspectiva das Pesquisas Populacionais: Limitações, Possibilidades e suas Interseccionalidades

Em âmbito nacional, inúmeras são as pesquisas e indicadores que fornecem um panorama bastante amplo da população brasileira sob diversas perspectivas. No entanto, ao analisarmos os indicadores oficiais produzidos nas pesquisas nacionais, é possível verificar que nestas imperam o binarismo de gênero, permitindo somente que sejam analisados indicadores relacionados aos sexos masculino/feminino, invisibilizando as minorias sexuais e demais identidades e performances de gênero nas bases de dados populacionais. Tal fato se justifica visto que nas pesquisas de órgãos oficiais brasileiros não havia, até o lançamento da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, a inclusão de variáveis como orientação sexual e identidade de gênero que permitam analisar de forma pormenorizada essa parcela da população. Com base no exposto e tendo como alvo os sujeitos apresentados, o objetivo dessa sessão temática é verificar o estado da arte dessa temática no Brasil, abordando a invisibilidade de pessoas LGBTQIA+ nas bases de dados populacionais por meio da reunião de pesquisadores que trabalhem a temática a partir de diversos pontos de vista, metodologias e campos de estudo. Como objetivo associado ao inicial, intencionamos, de modo coletivo, que sejam propostos caminhos e apresentados dados que estejam sendo trabalhados nessa linha, analisando criticamente o cenário atual. Espera-se, por fim, analisar a partir dos dados já existentes, características e possíveis fragilidades desse grupo a fim de que sejam debatidas e propostas, a partir dessas informações, políticas públicas visando à promoção da equidade e melhoria das condições de vida desses sujeitos.

 Corpos e mentes sob ataque: as múltiplas dimensões da violência contra mulheres

A violência contra mulheres [cis e transgênero] é uma infeliz permanência na sociedade brasileira. Pesquisas sobre as dimensões moral, patrimonial e psicológica ganharam maior visibilidade no Brasil a partir das disposições trazidas pela Lei n. 11.340/2006 – Lei Maria da Penha. Quase uma década após, as discussões ligadas a mortes violentas de mulheres se inscreveram na ordem do dia com a promulgação da Lei n. 13.104/2015 – Lei do Feminicídio. Embora os estudos sobre o tema se concentrem majoritariamente nas dimensões física e sexual das agressões, há outras formas de vitimizar mulheres que ocorrem sistematicamente sem deixar vestígios visíveis. Há formas de violentar corpos e mentes que ultrapassam a materialidade e se inscrevem do domínio do simbólico. Nesse sentido, é preciso também evidenciar distintas formas de opressão e violência que sacrificam projetos e oportunidades, esperanças e liberdades. Neste simpósio, buscar-se-á abrir espaço para discussões capazes de articular as várias formas de violência às quais mulheres estão sujeitas, considerando a conexão entre classe, raça e gênero. Violências físicas, por certo; mas também aquelas que acometem a liberdade, comprometendo suas vidas e seu futuro. Serão aceitos trabalhos ligados a crimes praticados em casos de violência doméstica; legislações e atos normativos que pretendam normatizar e regular a vida e os corpos de mulheres; discursos e práticas que as tornem reféns do patriarcado e da heteronormatividade; políticas que impeçam ou atrapalhem a educação de meninas e mulheres para a autonomia – financeira, intelectual, sexual. Os atores responsáveis por tais violências – desde maridos, companheiros, pais ou irmãos até o Estado e instituições sociais – e os mecanismos utilizados também se tornam interessantes para as discussões pretendidas. Comunicações que apresentem propostas e/ou ações para a prevenção e o enfrentamento a múltiplas violências, especialmente as relacionadas ao papel da educação escolar neste processo, representarão significativa contribuição para este simpósio. Assim, trabalhos que discutam a LEI Nº 14.164/2021 e a realização de campanhas educativas de prevenção da violência doméstica e familiar contra a mulher também constituem objeto de interesse deste simpósio.

  1. (Des)localizando o queer/cuir: movimentos e teorizações contra-coloniais

Visto que a teorização pós-colonial se propõe a analisar a construção de espaços subalternizados em antagonismo à superioridade daqueles considerados desenvolvidos e, portanto, colonizadores, interessa-nos pensar em que modos poderia o queer/cuir assumir uma postura contra-colonial. Nos sustentando na terminologia, poderíamos afirmar que o queer só pode ser compreendido em uma geografia norte-americana, haja vista sua significação pejorativa naquele contexto. Além deste fato, a criação de um cânone caracterizaria sua aplicabilidade em territórios outros enquanto colonial. Contudo, ao ampliarmos as perspectivas e mirarmos em suas potencialidades, encontraremos definições que afirmam ser o queer um movimento de crítica a todos e quaisquer processos de normalização que desencadeiam violências, questões relevantes que nos induzem à ampliação desse debate, desvinculando-o de sua utilização restrita em torno das sexualidades. Essa compreensão não se aproxima de outros campos de resistência, inclusive daqueles que, histórica e organicamente, existem desde muito antes de sua conceituação? Tais campos não preveem uma construção local, em que as práticas, sejam elas ontológicas ou epistemológicas, são parte estruturante dos processos de subjetivação dissidente que subvertem as normas cristalizadas e, dentro de tal entendimento, também colonialistas? Apresentamos, assim, o conceito de contra-colonização, que se distancia das dicotomias geolocalizadas entre Norte e Sul, entendendo a colonialidade como um processo de saber/poder que emerge em todos os espaços onde há a instituição da superioridade de “um” no instante em que se define a subalternidade “do outro”, e que vai além, ao defender a necessidade de uma luta construída localmente, encontrando na potência dos agenciamentos ali constituídos os meios fundamentais para a subversão. O conceito abre espaço para que possamos construir leituras outras em torno do queer/cuir, distanciando-as dos pressupostos acadêmicos universalistas e dando margem a arquiteturas que se baseiam na construção de lutas orgânicas e contra-assimilacionistas. Deste modo, a presente proposta de simpósio temático objetiva criar um espaço de diálogo mirando nas possibilidades de construção de um queer/cuir em suas mais diversas contribuições, tanto ontológicas quanto epistemológicas, por meio de reformulações que apontem para seu deslocamento e (des)localização, defendendo sua utilização como prática de resistência contra-colonial. 

  1. Arqueologia das dissidências sexuais na literatura e nas artes

Arqueologia é a área de estudo que busca compreender e reconstruir o passado humano a partir dos vestígios materiais deixados pelas culturas antigas. Para Michel Foucault (2000), que se concentra em entender como as formas de conhecimento são produzidas, organizadas e reguladas em diferentes contextos históricos, em sua arqueologia do saber, a produção de conhecimento não é um processo neutro, mas é influenciada por fatores políticos, sociais e culturais. Em outras palavras, o conhecimento é produzido a partir de relações de poder e é utilizado para manter e reforçar essas relações. Assim as dissidências sexuais, os saberes sobre ela e os saberes produzidos pelos dissidentes são objetos importantes para entender a diversidade das relações humanas ao longo do tempo. Através da análise de textos literários, material de acervo, objetos fílmicos, pinturas, esculturas, produções musicais, performances é possível identificar a presença e a representação de diversas sexualidades, incluindo homossexualidade, bissexualidade e transgeneridade, em diferentes períodos. As artes são fundamentais para que possamos buscar como os sujeitos da dissidência sexual foram vistos, representados e se representavam em tempos passados, apresentando narrativas que retratam as experiências e as vivências de personagens LGBTQIA+ e problematizando questões como a discriminação e a opressão. Dessa forma, interessam ao nosso simpósio todos os trabalhos que analisem objetos artísticos produzidos sobre as dissidências sexuais advindos de pesquisas em acervos os mais diversos que pensem as relações de poder que circulam tanto por esses objetos artísticos quanto pelos textos que falam sobre eles. Análises que enfoquem as maneiras pelas quais estabelecemos interconexões e interseções entre marcadores sociais da diferença nas nossas práticas cotidianas, seus impactos na (des)estabilização do ordenamento heteronormativo dos corpos; interações com a arte, estética, tecnologias, afeto; reverberações sobre desigualdades intrarregionais; Interessam os processos de produção das narrativas, os sujeitos envolvidos no contexto de produção, os jogos de poder descritos, as relações estabelecidas com as séries canônicas com os quais os objetos artísticos têm que se haver para poderem se constituir como dissidência sexual. 

  1. Dysphoria mundi: Poéticas e políticas de inadequação, dissidência e desidentificação

Em Dysphoria mundi, Paul B. Preciado parte do conceito de disforia para descrever a conjuntura epistêmico-política atual. Utilizada em contextos hegemonizados pela medicina, a noção de disforia é apropriada pelo filósofo para falar de formas de vida que, por já não poderem suportar o regime normativo do capitalismo petrosexorracial, instauram novas ordens político-visuais e regimes de saber. Etimologicamente, disforia consiste em “uma dificuldade de resistência, [n]a impossibilidade de sustentar o peso e transportá-lo. Por analogia, para a psiquiatria, a disforia indica um transtorno de humor que faz com que a vida cotidiana se torne insustentável” (PRECIADO, 2022, p. 23). Neste sentido, a ideia de Dysphoria mundi aponta tanto para o iminente esgotamento da vida e da subjetividade sob o capitalismo petrosexorracial quanto para um regime emergente, cocriado e implementado, sistêmica e horizontalmente, por vidas disfóricas da modernidade, que ele nomeia simbiontes políticos ou, como propõe Haraway (2022), atores semiótico-materiais. Este novo regime possui um grande potencial de germinação através da arte, do ativismo e da filosofia, pelo desenvolvimento de recursos subversivos de subjetivação e agenciamentos coletivos através da inter-relação com outros corpos humanos, não humanos e tecnológicos. O ST Dysphoria mundi: Poéticas e políticas de inadequação, dissidência e desidentificação está aberto a pesquisadoras/es, artistas, ativistas e profissionais das mais diferentes áreas que estejam interessades em discutir os fatores que testemunham o recrudescimento das investidas do capitalismo petrosexorracial e as respostas e resistências agenciadas através da criação de novas formas de vida, inadequadas, dissidentes e desidentificadas. Espera-se, através de investigações acadêmicas e de relatos de experiências artísticas, ativistas, clínicas, comunicacionais, políticas etc., promover um debate interdisciplinar e plural, comprometido com o aprofundamento e o tensionamento das ideias de Preciado e seus interlocutores (Haraway, Latour, Anzaldúa, Butler, Fanon, Lorde, Glissant, Mbembe etc.) a partir do contexto latino-americano. 

  1. Ensino de Ciências, gênero e relações étnico-raciais

Para a proposição deste simpósio, partimos da compreensão da educação como processo em que se articulam as dimensões éticas, políticas e estéticas, consideradas fundamentais para a efetivação de um trabalho pedagógico que considere as relações étnico-raciais e de gênero. Compreendemos a educação das relações étnico-raciais como uma possibilidade de questionamento e problematização de forma interseccional das lógicas do racismo entre negros, brancos e indígenas, que comunicam e naturalizam silenciamentos e narrativas. Com este simpósio temos a possibilidade de abordar o enfrentamento às invisibilizações e naturalizações dos conhecimentos, corpos e vivências no ensino e formação de professores/as de Ciências e Biologia, tendo em vista que historicamente o ensino das ciências naturais sempre teve como foco o cognitivismo. Nesse sentido, esperamos receber trabalhos que utilizem diferentes referenciais teóricos e metodológicos para discutir o ensino de Ciências em sua interface com as relações sociais de gênero e a educação das relações étnico-raciais em diferentes perspectivas e que tenham, dentre outras, o foco no currículo, no trabalho docente em sala de aula, na formação de professores, nos materiais didáticos, em diálogo com as demandas políticas das populações negras, indígenas, quilombolas e que contribuam para a promoção do reconhecimento e valorização dos diversos saberes, culturas, modos de ser/viver dos sujeitos no espaço escolar.

  1. LINGUAGEM E GÊNERO SOB PERSPECTIVAS CRÍTICAS

Na contemporaneidade global e tecnológica, em que vivemos, faz-se urgente pensar em compromissos éticos e legitimadores da diversidade e da diferença no mundo social. Em nossas práticas sociais, temos visto o aumento de discursos de ódio que se traduzem na intolerância e na discriminação social vividas sob variados aspectos, bem como o incentivo discursivo-fascista de pessoas e grupos querendo conter o progresso ao desconstruir as políticas de diversidade até então conquistadas. Nessa dimensão, compreender epistemologias e interfaces da educação linguística em Linguística Aplicada, refletindo sobre diferentes aspectos atrelados às práxis contemporâneas, com ênfase em perspectivas críticas, decoloniais ou queer, pelo viés da linguagem, pode ser uma tentativa promissora de esperança. Diante dessas condições, neste simpósio, buscamos problematizar questões relacionadas à linguagem (discurso) e ao gênero sob perspectivas críticas, de/coloniais ou queer de educação linguística amparados pela interdisciplinaridade da área de Linguística Aplicada e pela perspectiva política, epistêmica e ética da linguagem envolvendo o gênero. Considerando a tríade performatividade-discurso-identidades, nosso interesse é reunir estudos inter, trans e multidisciplinares que focalizem o papel central da linguagem nas construções sociais envolvendo gênero, raça, diferença, desigualdade, entre outros aspectos provenientes dos trânsitos entre práticas, performances, corpos e culturas da diferença colonial, na tentativa de tensionar valores e hierarquias enunciadas. A partir das pesquisas que serão trazidas à discussão, almejamos mobilizar repertórios de formação docente para o respeito e a promoção da diversidade em salas de aula de educação básica e ensino superior. 

  1. CORPOS TRANSVIADOS: ESPAÇO, MEMÓRIA, GÊNERO E SEXUALIDADE

Com a eclosão dos estudos decoloniais tornou-se possível enxergar o corpo mergulhado em um campo político repleto de marcadores sociais. Desse modo, essa assertiva se estrutura ao constatar que a desumanizações/precarização de alguns corpos se dá em detrimento da relevância de um modelo que é lido como referência de ideal, indo de encontro com o (cis)tema heteropatriarcal, branco e colonialista. Este ideal de pensamento, por sua vez, percorre por diversos espaços e perpassam diferentes corporeidades, interpelando-os em sujeitos desde os espaços acadêmicos aos espaços sociais, tendo na memória e nos discursos o que pode um corpo, sobretudo, o subalterno. Para tanto, busca-se aqui reverberar sobre conhecimentos ligados ao espaço como um produto social ao aplicar a concepção do território usado com base nas relações sociais e a concretização do poder seja ele estatal ou de um grupo hegemônico em específico; de memória, no que tange a sociedade e o discurso em se tratando da desconstrução do conceito de corpos normativos, bem como gênero e a sexualidade como proposta contrassexual aos sujeitos sociais. Assim, o exercício que propomos neste simpósio temático é fomentar o debate de produções acadêmicas e não acadêmicas, tal qual as práticas que estejam desmantelando ideologias coloniais, protagonizando, sobretudo, os sujeitos da margem sociedade brasileira que borram o cânone literário das produções acadêmicas. Nesse cerne, os trabalhos transviados, de gênero e sexualidade, ligados às mais diversas áreas dos saberes, como tal como: Linguística; Literatura; Geografia; Sociologia; Filosofia; Educação, dentre outros campos do conhecimento serão bem vindos neste simpósio temático. 

  1. GÊNEROS E SEXUALIDADES NOS COTIDIANOS (NÃO) ESCOLARES: ENTRE DISPUTAS E PERSPECTIVAS

As questões de gênero e sexualidades, nos cotidianos escolares, têm sofrido ataques conservadores desde, principalmente, o processo de elaboração do Plano Nacional de Educação (PNE 2014-2024). Neste sentido, o silenciamento, o apagamento e a ocultação dessas temáticas têm promovido avanços, não sem resistência, de discursos antigênero. É relevante que compreendamos, no atual contexto, como estas disputas se instalam e buscam interditar corpos e subjetividades que fogem ao padrão CIS-Heteronormativo, aprofundando manifestações de ódio, de preconceitos e de discriminações que envolvem as materializações de sexualidades, gêneros e as diversas violências que se inserem e são reforçadas nas práticas escolares. Importante assinalar que não só o cotidiano escolar produz este cenário de violências. Outros espaços/tempos não-escolares também produzem desigualdades, discriminações e violências.  Esta proposta de Simpósio Temático insere-se na possibilidade de entendimentos diversos, não só sobre o cotidiano escolar, mas também, sobre as mais variadas manifestações culturais que dialogam diretamente com a escola. Assim, diversos artefatos culturais disponíveis, tais como currículos, livros didáticos, tecnologias, redes sociais digitais, audiovisualidades, se constituem como espaços/tempos, também, de enfrentamentos contra as ofensivas conservadoras, propiciando a formação de uma posicionalidade crítica, reflexiva e formativa. Envolve, portanto, pesquisas que tomem a formação docente, as práticas pedagógicas, as diversas manifestações de identidades de gênero e sexuais como perspectivas de contraposição aos vieses neoconservadores. A proposta envolve, também, o enlaçamento/acolhimento de investigações que apontem para possiblidades de, seguindo nas brechas e nas fissuras, promover abalos e rupturas na estrutura CIS-heternormativa que segue em curso, conformando corpos e subjetividades nos cotidianos (não) escolares. 

  1. Relações de gênero e sexualidades no contemporâneo: processos de (des)subjetivação com as mídias e artefatos culturais

O contemporâneo vem anunciando múltiplos e naturalizados processos de (des)subjetivação, colocados em prática por distintas instâncias do social e da cultura. Interessa-nos nesse Simpósio Temático reunir trabalhos que estejam interessados por esses processos com base nas mídias e artefatos culturais: programas de TV, filmes, séries, vídeos, propagandas, músicas e clipes musicais, sites, blogues e redes sociais, aplicativos de encontros, jogos eletrônicos, entre tantos outros produtos culturais. A presença marcante de tais produtos no cotidiano de diferentes grupos sociais e culturais vem produzindo implicações na construção e circulação de saberes, valores e formas de condutas, (des)subjetivando os indivíduos. Nesse sentido, as mídias e artefatos culturais se tornam alvo de estudos e pesquisas que se dedicam a problematizar de que modos os sujeitos se produzem na relação com esses produtos, tanto no sentido de conformá-los e normatizá-los, quanto na produção de liberdades e linhas de fuga contra-hegemônicas, inventando resistências aos assujeitamentos no campo das relações de gênero e sexualidades, atravessado por outros marcadores sociais de diferenças (raça, etnia, religiosidade, geração, condição socioeconômica, deficiência, regionalidade, entre outros). Acolheremos textos advindos de diferentes áreas e que lancem mão de distintas estratégias metodológicas e de análise, privilegiando, sobretudo, aqueles que dialoguem com as perspectivas foucaultianas e pós-estruturalistas dos estudos de gênero e sexualidade, incluindo as teorizações queer, pós/de(s)coloniais e interseccionais. 

  1. Decolonizar a estrutura epistemológica cisheteronormativa/colonial: por uma episteme arruaceira

Nas últimas décadas, presenciamos o aumento de debates e questionamentos em torno da epistemologia, especialmente de uma epistemologia compulsoriamente cisheteronormativa/colonial. Essas rasuras propõem desde uma “epistemologia para a próxima revolução” até “pedagogias micropolíticas decoloniais”, passando por epistemes negras, indígenas, de encruzilhada, de fronteira, contrassexuais. De Michel Foucault à Paul B. Preciado, de Frantz Fanon à Grada Kilomba, de Linda Alcoff à Luiz Rufino, percebe-se que a episteme anda lado a lado com o processo de colonização (um projeto de dominação, produção de mortandade, destruição da diversidade, controle e ataque ao corpo), determinando o tipo de conhecimento produzido, quem o produz, para quem é direcionado e qual conhecimento é considerado válido. Na relação entre saber, poder, colonialidade, determina-se quem é autorizado a falar e como subjetividades são produzidas. Enquanto um tipo de saber/sujeito é tido como universal, outros são recalcados, marginalizados, efetivando a colonialidade do poder, do saber e do ser. Como resultado, a matriz colonial/cisheteronormativa se estabelece, por meio de um discurso regulamentador, parâmetro supostamente unívoco para o conhecimento. O presente Simpósio Temático objetiva discutir outras epistemologias capazes de rasurar, problematizar, decolonizar a estrutura epistemológica cisheteronormativa/colonial; pensar uma epistemologia queer, negra, indígena, como arma prática e conceitual para desafiar o que se instituiu arrogantemente como verdade, dialogando com saberes/sujeitos dissidentes, sexodissidentes e contrassexuais. Em outros termos, buscamos estudos que critiquem radicalmente processos de legitimação do conhecimento, num movimento teórico e prático cuja luta é antifascista e anticolonial. Sobretudo, que evoquem uma terreização dos sabes, que macumbem a ciência cartesiana, dando uma rasteira em Descartes, lançando lhe feitiços, mandingas e pó de pemba; que não reduza o erótico ao falo, mas coloque em cena o dildo, os saberes ancestrais e uma episteme arruaceira. 

  1. Epistemologias Feministas e Estudos das Mulheres

Este Simpósio Temático tem como objetivo central o de estudar e refletir as relações entre feminismo, epistemologia e participação da mulher em sociedade, elaborando não só reflexões quanto a temática feminismo e participação política, como como para construção de pesquisas e produtos educacionais que envolvam uma pluralidade de sujeitos, grupos e instituições. Com a máxima “o pessoal é político” o feminismo – enquanto conjunto de movimentos políticos, sociais, ideológicos e filosóficos – deu o pontapé inicial para a discussão da formação de identidades sexuais e de gênero, dentre suas reivindicações, está a contestação política e de participação social com bases na diferenciação entre homem e mulher. Esperamos que os debates tecidos neste Simpósio possibilitem reflexões mais profundas acerca das experiências de mulheres no espaço universitário, bem como os sentidos e significados destas experiências na construção do conhecimento, sistematizando subsídios, através de diálogo, estudo, escrita e organização do curso, para construção e consolidação de espaços e conhecimentos que se anunciam como novos paradigmas científicos, numa ciência que se debruça pela equidade e pela justiça social. 

  1. A Potencialidade transformadora de corpos e experiências lésbicas e mulheres bissexuais: do apagamento à visibilidade.

É notável que, historicamente, o crescimento de produções teóricas sobre as lesbianidades e bissexualidades tem conexão direta com a autonomia do movimento lésbico e bissexual em relação à tutela do movimento homossexual. Por muito tempo, o movimento LGBTQI+ reproduziu as singularidades das experiências gays e o apagamento dos corpos e experiências das feminilidades trans, lésbicas e bissexuais, sem dar visibilidade e sem considerar as particularidades desses corpos e práticas. Nesse sentido, as produções sobre as lesbianidades e bissexualidades devem promover discursos questionadores sobre o heterociscentrismo normalizador e hierárquico que colocam as lésbicas e mulheres bissexuais no lugar da subalternidade. Além disso, as produções LésBi necessitam também dar visibilidade para suas existências plurais e as muitas formas de se colocar no mundo como lesbiana ou bissexual. Para esse Simpósio Temático são interessantes trabalhos em formato de estudos, performances, relatos de experiências ou outras formas de expressão, que entrecruzam a teorização e o ativismo, fundamentados na multiplicidade de realidades e experiências, as quais, por sua vez, se inserem em perspectivas interseccionais, plurais e não essencialistas. Portanto, serão privilegiadas as comunicações que considerem intersecções com as lesbianidades e as bissexualidades de mulheres, tais como etnia/raça, geracional, classe, corponormatividades, entre outras. É importante que as comunicações sigam perspectivas decoloniais, anticapitalistas, antirracistas, anticapacitistas, feministas, lésbicas e/ou bissexuais de mulheres 

  1. “Relações perigosas” entre raça, sexo, classe e economia política na periferia do capital: reflexões materialistas e pós-coloniais a partir da História e da Literatura

Na formação social brasileira, capitalista, cis-heteropatriacal e racista, a ideologia dominante torna as desigualdades socioeconômicas entre homens e mulheres, brancos e negros, pobres e ricos em justificativas aceitáveis que ocultam e invertem a realidade, reproduzidas e espraiadas por meio de ideias, valores, comportamentos e representações da classe dominante que se apresentam como universais, a-históricas, teleológicos e intransponíveis. Resultam desse processo histórico as múltiplas determinações que naturalizam uma sociedade gendrada, racializada e hierarquizada. Trata-se de vidas ceifadas sob diversas formas por uma sociabilidade que reifica a pessoa humana e sua existência, que a culpa pela violência sofrida e a constrange nos espaços públicos e privados. No século XXI, continua admissível o racismo gendrado. Tal constatação torna inevitável reconhecer que o capitalismo, no Brasil e noutras partes do mundo onde se verifica as determinações aqui apresentadas, conjuga o regime de apropriação e opressão sexual e racial com a dominação e exploração da força de trabalho. Eis um sociometabolismo que organiza a sociedade de classes em torno de figuras de autoridade do sexo masculino, cis-heteronormativa, sexista, machista, misógina e racista. Nessa perspectiva, o objetivo deste Simpósio Temático é discutir estudos estruturados a partir de aportes metodológicos pós-coloniais e materialistas que articulem, no campo da História e da Literatura, o sociometabolismo do capital com os processos de racialização e sexualização. As pesquisas podem ter como escopo temporalidades, espaços e fontes variadas, atravessadas pelo debate sobre raça, sexo, classe e economia política, tanto quanto colocar em tela a epistemologia feminista e o transfeminismo. A finalidade é fomentar análises teórico-críticas que reflitam as dimensões subjetiva e objetiva dos objetos estudados.

  1. A medicalização do sexo/gênero: Narrativas sobre corpos, afetos, sexualidades e controle reprodutivo na história das mulheres

As narrativas que questionam os essencialismos biológicos nos discursos sobre os corpos, as sexualidades e a reprodução humana encontraram nos estudos de gênero um lócus de enunciação que contempla as perspectivas socioculturais das experiências de sujeitos em diferentes contextos históricos. Por sua vez, os campos de pesquisa de história da saúde e da medicina passaram a incorporar uma abordagem mais generificada e racializada ao problematizar os processos de medicalização e normatização dos corpos femininos e/ou considerados “desviantes” dos padrões impostos por uma moralidade ocidental burguesa e cristã, sustentada pela colonialidade do poder. O projeto de higienização social na emergência da sociedade capitalista carrega em seu cerne dispositivos de disciplinarização dos costumes em espaços públicos e privados que privilegiaram o controle das sexualidades e da reprodução de tal modo que, práticas e saberes populares passaram a ser combatidos e criminalizados. Assim, diante de novos problemas, fontes e epistemologias que possibilitam a investigação histórica acerca da medicalização dos corpos no âmbito das hierarquias de gênero, classe e raça, este simpósio temático contemplará uma proposta ampla de discussões. Os trabalhos acolhidos poderão abranger questões como sexualidades, controle reprodutivo, maternidades, higiene e práticas de cuidado, história de práticas médicas, honra e moralidades, subjetividades, afetividades, experiências e representações geracionais, discursos eugênicos, violências de gênero, entre outros, que contribuam para a construção e desconstrução do conhecimento histórico na área, além de incorporar perspectivas descolonizadoras e decoloniais para o universo das pesquisas feministas. 

  1. Infâncias, Gênero, Sexualidade e Diferenças

O Simpósio Temático Infâncias, Gênero, Sexualidade e Diferenças visa ampliar o debate sobre as questões de gênero, sexualidade e diferenças que permeiam as vivências diárias das crianças e sobre como políticas e práticas para a infância estão implicadas com a equidade de gênero. Um debate necessário especialmente no contexto de barbárie implementado por um projeto fascista de sociedade que busca calar e eliminar as diferenças e se afirma em modelos de opressão e subjugação do outro, do diferente. Busca-se também contribuir com estudos e pesquisas que compreendem as crianças como sujeitos históricos e sociais. O que elas manifestam, incorporam, resistem e transgridem em suas experiências que concerne a gênero, sexualidade e diferenças? Quais políticas públicas são voltadas para o acolhimento das crianças e suas vulnerabilidades, que garantam seus direitos à liberdade, ao respeito e à dignidade, como assegurado no Estatuto da Criança e Adolescente (ECA)? Como movimentos sociais têm abordado essas questões e contribuído para o reconhecimento e respeito às diferenças e construção da equidade de gênero?

18. Jornalismo e Gênero

A proposta é discutir o Jornalismo e Gênero para alavancar uma discussão sobre a produção/reprodução de narrativas que perpetuam o machismo, o sexismo, a misoginia no conteúdo jornalístico. A ideia é fazer, a partir da teoria, reflexões sobre a relação entre práticas culturais e discursivas que denotem como se enquadra o poder e as questões de gênero. Também se espera o debate sobre a interseccionalidades como um demarcador social em gênero, raça, classe, etnia e geração. Por último, em nível empírico e teórico, almeja-se a apresentação de trabalhos que apresentem a realidade atual no jornalismo sobre o tema, trazendo também as resistências e transgressões em andamento na Comunicação e no Jornalismo.


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