Campus de Vitória da Conquista, 22 de novembro de 2024
Após ter recebido uma carta da Profa. Dra. Stefania Parigi confirmando a realização do estágio de doutorado-sanduíche na Università degli Studi Roma Tre, o doutorando Joslan Santos Sampaio começou a se preparar para sua primeira viagem internacional. Ele fora selecionado como bolsista do Programa de Doutorado-Sanduíche no Exterior (PDSE). Este programa, mantido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), tem como objetivo apoiar a formação de pesquisadores por meio da concessão de cotas de bolsas de doutorado-sanduíche no exterior às instituições de ensino superior com cursos de doutorado reconhecidos pela CAPES.
Historiador, Joslan é doutorando no Programa de Pós-Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade (PPGMLS), da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), campus de Vitória da Conquista, onde também fizera o mestrado em Memória. Sob a orientação da Profa. Dra. Milene de Cássia Silveira Gusmão, ele pesquisa a formação e o processo criativo do cineasta italiano Roberto Benigni a partir da relação entre comédia e tragédia, bem como memória e história, especialmente em A vida é bela (La vita è bella, 1997), filme sobre o holocausto.
“Tradicionalmente, a comédia é destinada a narrar eventos menores, enquanto a tragédia é para eventos superiores, sérios. O filme A vida é bela é polêmico e reconhecido mundialmente porque há nele uma transformação na forma de ver e entender o gênero cômico. Nesse sentido, o holocausto, que normalmente seria um tema do gênero trágico por ser um evento sério, também pode ser narrado de forma cômica. É nesse caminho que a condição de possibilidade do filme de Benigni, além da trajetória estabelecida por ele por dentro do campo do cinema, é possível também pela condição do tempo: um tempo, o final do século XX, que permite narrar de forma cômica um evento trágico, sério, pois há uma ressignificação da história do riso e também do gênero cômico”, argumenta Joslan.
Durante os quatro meses de estudos na Itália (do começo de julho ao final de outubro de 2017), Joslan foi supervisionado por Stefania Parigi, renomada pesquisadora do cinema italiano e autora de um livro sobre Benigni. Ela estruturou as condições e selecionou os arquivos a serem frequentados pelo doutorando. Joslan pesquisou, colheu e catalogou documentos sobre Benigni na biblioteca da Università degli Studi Roma Tre, na Biblioteca Nacional Central de Roma e na Biblioteca Panizzi, na cidade de Reggio Emilia, onde está o Arquivo Zavattini (um dos mais importantes realizadores do neorrealismo italiano, o roteirista e cineasta Cesare Zavattini e seu legado cinematográfico foram relevantes na formação de Benigni). Na Itália, Joslan teve acesso também ao conjunto da filmografia de Benigni, o que lhe permitiu conhecer de perto as diferentes fases da obra do cineasta italiano.
Aclamado e premiado ator, roteirista e diretor, Roberto Benigni nasceu em 1952, no interior da Toscana. De origem camponesa, trabalhou num circo na década de 1960. Depois passou a viajar pela Toscana com o grupo “Poetas Improvisadores”, que fazia apresentações de poesia em praças públicas. Em 1972, mudou-se para Roma, onde fundou, com amigos, uma companhia de teatro underground. Sua estreia no cinema ocorreu em 1976-1977, ao escrever o roteiro de Berlinguer ti voglio bene [Berlinguer, te amo, em tradução livre], em que atua dirigido por Giuseppe Bertolucci, também corroteirista do filme. Em 1983, estreou como diretor de cinema em Tu mi turbi [Você me perturba, em tradução livre]. Nos anos seguintes, Benigni consolidou-se como um dos mais populares realizadores do cinema italiano. Em 1990, foi dirigido pelo cineasta Federico Fellini em A voz da lua (La voce della luna). Em 1998, foi aclamado internacionalmente com A vida é bela, que recebeu o grande prêmio do júri no Festival de Cannes e, em 1999, três prêmios Oscar (melhor ator, melhor filme estrangeiro e melhor trilha sonora original).
“A experiência do doutorado-sanduíche na Itália, com o acesso a arquivos e a toda uma fortuna crítica sobre Roberto Benigni e o filme A vida é bela, fez com que eu estruturasse as condições para discutir com maior pertinência os elementos centrais a respeito da trajetória de Roberto Benigni e do processo de criação de A vida é bela”, avalia Joslan.
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