Campus de Vitória da Conquista, 22 de novembro de 2024
Quando a pesquisadora Gilneide de Oliveira Padre Lima decidiu investigar, no doutorado do Programa de Pós-Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade (PPGMLS – UESB), o destino desconhecido do corpo de sua prima de segundo grau Dinaelza Soares Santana Coqueiro, ela se deparou com a memória silenciosa construída pelos familiares ao longo de cinco décadas desde o desaparecimento de Dinaelza.
Gilneide foi recompondo a memória da prima nascida em Vitória da Conquista em 22 de março de 1949 e de sua participação na Guerrilha do Araguaia, onde Dinaelza, o marido e outros companheiros de luta desapareceram, no começo dos anos 1970, durante a violenta e arrasadora reação da ditadura militar (1964-1985). A pesquisa de doutorado de Gilneide, orientada pela Profa. Dra. Lívia Diana Rocha Magalhães, resultou na tese Do corpo insepulto à luta por memória, verdade e justiça: um estudo do caso Dinaelza Coqueiro, cuja defesa ocorreu em 29 de março no PPGMLS, poucos dias antes de se completarem os 55 anos do golpe político-militar ocorrido no Brasil na passagem de 31 de março para 1º de abril de 1964.
“Dinaelza Santana Coqueiro, estudante conquistense desaparecida no período da Ditadura Militar na Guerrilha do Araguaia, filha de Junília Soares Santana e Antônio Pereira de Santana, era a terceira dos seis filhos do casal, que tinha também Diva, primeira filha, Dilma, segunda, Dinorá, quarta, Dirceneide, quinta, e Getúlio, o sexto filho. Diná, como era chamada pelos familiares, era casada com Vandick Reidner Pereira Coqueiro, estudante de Economia da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Após militarem no movimento estudantil, em Salvador, seguiram para uma ‘tarefa especial’ do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), partido ao qual estavam ligados. Mais tarde, a família tomou conhecimento de que a ‘tarefa especial’ tratava-se, na verdade, da Guerrilha do Araguaia, na qual combateram, tombaram e desapareceram. Desde o final da década de 1970, seus familiares vêm empreendendo incessante luta em busca do seu corpo insepulto”, relata Gilneide na introdução da tese.
“O interesse pelo assunto levou-me ao encontro com as suas irmãs. Estavam em Vitória da Conquista as irmãs Diva, Dilma e Dirceneide Santana para visitas aos familiares, quando tive a oportunidade de conhecê-las na casa de uma tia”, explica a pesquisadora. O contato direto com as irmãs de Dinaelza revela uma das camadas de memória da tese de Gilneide. “A pesquisa demonstra que a busca pelo corpo insepulto envolve uma constelação de processos, no caso Dinaelza Coqueiro, tanto do ponto de vista político como familiar, que se inserem no contexto da luta pela memória, verdade e justiça e pelos direitos humanos em sua dimensão parental, estatal e social”, ressalta Gilneide.
Nesse sentido, a tese de Gilneide adquiriu uma potência simbólica ainda maior perante as irmãs de Dinaelza, que estiveram presentes na defesa de doutorado. Segundo a Profa. Dra. Lucileide Costa Cardoso (UFBA), que compôs a banca, não se trata apenas de um trabalho de memória sobre a Guerrilha do Araguaia, mas também de um ato de memória, impulsionado pela presença da família de Dinaelza na defesa de doutorado. “O trabalho traz uma dimensão humana”, enfatizou o Prof. Dr. Ruy Hermann Araújo Medeiros (UESB), que fez parte da banca, também composta pela Profa. Dra. Lívia Diana Rocha Magalhães (orientadora), Profa. Dra. Ana Palmira Bittencourt Santos Casimiro (UESB) e Profa. Dra. Jaci Maria Ferraz de Menezes (UNEB).
Ao finalizar a pesquisa de doutorado, Gilneide avalia que “desde o retorno do país ao Estado Democrático, em 1985, pontos obscuros maculam a sua história, principalmente os relacionados ao destino dos mortos e desaparecidos no período ditatorial, especialmente os desaparecidos na Guerrilha do Araguaia, onde tombou Dinaelza Coqueiro”.
“Apesar de o desaparecimento de Dinaelza Santana Coqueiro ter se dado na década de 1970, consideramos esse tema ainda atual, visto que a problemática dos desaparecimentos forçados segue sem solução no Brasil. A busca pelo insepulto permanece ativa na sociedade atual, o que, para nós, é uma grande lástima”, conclui Gilneide.
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