Campus de Vitória da Conquista, 23 de novembro de 2024
Em busca de documentos e fontes sobre memória, política e história, sobretudo envolvendo as relações entre Brasil e Portugal, o pesquisador Carlos Nássaro Araújo da Paixão, 34, desembarcou na cidade do Porto em março de 2017. Ao longo de quatro meses, ele frequentou a Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde foi orientado pelo professor Manuel Loff. “Foi minha primeira viagem internacional. Foi uma experiência riquíssima, em que tive contato com pessoas de diferentes países, como, por exemplo, um pesquisador de Timor-Leste, Celestino Pereira, que lutou na independência de seu país”, relata.
Historiador e doutorando no Programa de Pós-Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade (PPGMLS), da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, campus de Vitória da Conquista, Nássaro foi a Portugal como bolsista do Programa de Doutorado-Sanduíche no Exterior (PDSE). Este programa, mantido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), tem como objetivo apoiar a formação de pesquisadores por meio da concessão de cotas de bolsas de doutorado-sanduíche no exterior às instituições de ensino superior com cursos de doutorado reconhecidos pela CAPES.
Desde 2014, quando iniciou o doutorado, Nássaro pesquisa as memórias políticas de Juracy Magalhães (1905-2001), ex-governador da Bahia, tendo em vista seu papel político junto à burguesia. A pesquisa, orientada pelos professores José Rubens Mascarenhas de Almeida e José Alves Dias, volta-se principalmente para a análise dos livros de memórias de Juracy: “Minha vida pública na Bahia” (1957), “Minhas memórias provisórias” (1982) e “O último tenente” (1996), além de abordar trechos de “Minha experiência diplomática” (1971).
De formação militar, o cearense Juracy Magalhães participou do movimento tenentista na década de 1920 e da Revolução de 1930. Em 1931, foi nomeado por Getúlio Vargas interventor da Bahia. Com o golpe do Estado Novo, em 1937, rompeu com Vargas, passando à oposição e filiando-se à UDN (União Democrática Nacional). Porém, em 1954, quando Vargas criou a Petrobras, Juracy tornou-se o primeiro presidente da estatal. Depois, foi eleito governador da Bahia para o período de 1959 a 1963. Em 1959, perdeu para Jânio Quadros o apoio da UDN para concorrer à Presidência da República. Em 1964, Juracy apoiou o golpe militar, tendo sido nomeado embaixador nos Estados Unidos, país com o qual estreitou ainda mais os laços com o Brasil. Nesse contexto, Juracy declarou que “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”. Ainda no regime militar, tornou-se ministro da Justiça. Além disso, foi nomeado ministro das Relações Exteriores, condição na qual viajou a Portugal a fim de estabelecer tratados de cooperação luso-brasileiros. É nesse ponto que Nássaro se debruçou enquanto esteve em Portugal.
“Nos arquivos diplomáticos que consultei, tive acesso aos tratados Brasil-Portugal e ao diário do ministro dos Negócios Estrangeiros, Franco Nogueira, e a suas impressões pessoais sobre Juracy. O ministro português critica, por exemplo, o apreço de Juracy pelos Estados Unidos. Fui para Portugal para entender a atuação de Juracy como ministro das Relações Exteriores. Essa discussão sobre a relação com os Estados Unidos através da tensão com Portugal tornou-se central na minha tese”, avalia.
Além dos cursos que frequentou na Universidade do Porto, Nássaro pesquisou no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, na Biblioteca Nacional e no Arquivo Diplomático e Biblioteca Diplomática, em Lisboa. Também participou dos colóquios “Transição para a democracia e memória da ditadura”, na Universidade de Coimbra, e “Democracia em Debate”, na Universidade do Porto, no qual abordou o tema “Percalços da democracia no Brasil (1930-1964)”. Nássaro ressalta também a experiência de ter vivenciado em Lisboa as comemorações do feriado de 25 de abril, data da Revolução dos Cravos, fato histórico que, em 1974, encerrou os mais de 40 anos de ditadura salazarista em Portugal.
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