A contribuição da pesquisa com o cacau para o desenvolvimento regional
Pesquisa
O cacau é um fruto conhecido, principalmente, por ser a matéria-prima para a fabricação do chocolate, mas, além disso, é muito utilizado em composições de produtos farmacêuticos, estéticos e em outros itens alimentícios. Para seu cultivo, são necessárias algumas condições climáticas favoráveis, pois o cacaueiro exige clima quente e úmido e uma temperatura média anual de 23°C. Por esse motivo, entre outros, que no Brasil o cultivo do cacau é concentrado, particularmente, no sul da Bahia.
Em busca de identificar a qualidade do cacau e seus derivados, a Uesb, campus de Itapetinga, em parceria com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano (IF Baiano), campus de Uruçuca, por meio do Grupo de Pesquisa C&T Alimentos – BA, está desenvolvendo a pesquisa intitulada “Prognóstico da qualidade de amêndoas de cacau produzidas no estado da Bahia usando quimiometria”. O estuda busca, entre outras coisas, obter características das amêndoas que sejam pertinentes à determinada região e garantir, dessa forma, a Identidade Geográfica (IG) do fruto.
Pesquisa sobre qualidade do cacau contribui para o desenvolvimento sócioeconômico no sul da Bahia.
De acordo com dados da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário, divulgados neste ano de 2017, 70% da produção nacional do cacau se concentra nos territórios do Litoral Sul, Baixo Sul e Médio Rio das Contas da Bahia. Em virtude disso, e da aproximação existente entre o IF Baiano e os produtores de cacau dessas regiões, foi diagnosticado a necessidade de realizar a pesquisa. Em paralelo, o professor do Programa de Pós-graduação em Engenharia de Alimentos da Uesb e um dos coordenadores da pesquisa, professor Leandro Soares Santos, vinculado ao Departamento de Tecnologia Rural e Animal (DTRA), já trabalhava com estudos relacionados ao cacau na Universidade. Dessa forma, surge, então, a parceria entre as duas instituições de ensino.
Apesar de estudos em torno do cacau serem feitos há bastante tempo nas regiões do sul da Bahia, de acordo com o professor Leandro Soares Santos, não há informação de nenhuma pesquisa com a mesma dimensão dessa, que está em andamento. “Nós ainda não temos registros de pesquisa feita com essa amplitude, por meio da qual estamos levantando uma série de variáveis: fisioquímica, topográficas, espectrofotométricas, utilizando equipamentos que estão conseguindo nos dar respostas em termos de rapidez, sem muitos gastos de reagentes”, ressalta o professor da Uesb.
Segundo o docente, “a ideia inicial é fazer o diagnóstico do cacau das três regiões, identificando quais são as variáveis que de fato respondem por qualidade e se essas amostras de diferentes regiões podem, futuramente, ser utilizadas para a identificação de origem e permitir verificar melhor quais são as variáveis de qualidade para poder, depois que for feito esse diagnóstico, ir lá ao campo e orientar os produtores de cacau sobre defeitos, qualidades e melhorias na produção”, esclarece Santos.
O professor Leandro Soares Santos explica ainda que o diferencial dessa pesquisa é que as características do cacau são analisadas de forma conjunta, por meio da quimiometria, o que torna o diagnóstico da qualidade do fruto mais preciso. “Quando trabalhamos com o cacau, o solo, a secagem e o clima vão influenciar muito a qualidade do alimento. Muitas vezes, olhamos para uma variável apenas. Já a quimiometria vai analisar conjuntamente todas as variáveis, o que gera muito mais conhecimento do que quando você olha para as variáveis de forma isolada”, pontua Santos.
A mestranda em Ciência e Engenharia de Alimentos, Acsa Santos Batista, que trabalha com a qualidade do cacau para sua dissertação de mestrado, afirma que “a participação nesta pesquisa está sendo uma excelente oportunidade de crescimento no âmbito científico, técnico, profissional e pessoal”. A aluna também enfatiza que a pesquisa oportuniza a troca de experiência e conhecimentos entre os discentes e professores das duas instituições de ensino. “Participando dessa pesquisa, conheci novos professores, ex-alunos da Universidade e produtores, além de alunos e técnicos do IF Baiano que apoiam essa causa e contribuem para que possamos avançar”, acrescenta Batista.
O professor do IF Baiano, Ivan de Oliveira Pereira, ressalta que a pesquisa irá contribuir para o desenvolvimento socioeconômico das regiões cacaueiras do sul da Bahia. “A ideia é que aconteça geração de renda e desenvolvimento regional, tudo em volta de um projeto que está nascendo no momento em que estamos comemorando 100 anos de pesquisa de cacau em nossa região. Estamos tentando contribuir, um século depois, com um projeto de um potencial muito grande que é esse”, afirma Pereira. Ele comenta ainda que a troca de conhecimento é uma das contribuições mais importantes advindas desse trabalho. “Eu gostaria de destacar também a importância do produto fim, que é a formação profissional do estudante que vai se aprofundar cada vez mais nesses estudos. Nós temos engenheiros de alimentos da Uesb, mestres e doutores em Engenharia de Alimentos, que também vão trocar conhecimentos, saberes com estudantes de nível médio. Então, não temos nem como contabilizar o ganho que faz essa troca de saberes”, enfatiza o professor.