Educar brincando: o lúdico no processo de aprendizagem
Extensão
Estimular a criatividade, promover a socialização, a partilha de espaços de convivência e o respeito mútuo são alguns dos benefícios do ato de brincar, que devem ser cultivados e valorizados. Além de divertir e entreter as crianças, as brincadeiras podem se tornar grandes aliadas no processo de aprendizagem.
Nesse sentido, o Projeto de Extensão “Ludoteca: Tempo de Brincar”, no campus de Itapetinga, vem trabalhando, desde 2003, a brincadeira como ferramenta de aprendizagem. Coordenada pela professora Ennia Débora Pires, do Departamento de Ciências Humanas, Educação e Linguagem (DCHEL), a Ludoteca, enquanto espaço sócio-educativo-recreativo, é um ambiente estruturado para estimular a criatividade e a brincadeira, como o “faz-de-conta”, além da dramatização, a solução de problemas, o jogo, a socialização e o desejo de inventar. O espaço atende crianças, grupos de escolares, professores da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental, e discentes e professores de cursos de licenciatura.
Por meio da brincadeira, projetos da Uesb estimulam a criatividade e promovem a socialização, favorecendo ainda o processo de ensino-aprendizagem.
Segundo a coordenadora, as ludotecas ou brinquedotecas têm características e objetivos específicos e variam de acordo com os propósitos das instituições que as disponibilizam. “A criação de uma ludoteca no ambiente universitário teve que levar em conta as especificidades que caracterizam as brinquedotecas universitárias. Desde sua idealização, procurou-se ampliar o escopo das atividades de forma a contemplar os objetivos da Universidade referentes à pesquisa, ao ensino e à extensão”, explicou Pires.
Contribuir com o resgate da cultura do brincar, considerando a importância das atividades lúdicas no desenvolvimento e na aprendizagem infantil, e colaborar com a formação dos estudantes de Pedagogia e de outras licenciaturas da Uesb são alguns dos objetivos da Ludoteca. Além disso, o projeto presta orientação e assessoria às instituições de educação infantil e ensino fundamental. A docente destaca ainda que, enquanto brincam, as crianças se conhecem, trocam ideias sobre as brincadeiras e conversam com as ludotecárias. “A brincadeira acaba por tomar uma dimensão muito maior do que se propôs incialmente. Por meio do brincar, a criança aprende a conviver em sociedade, amplia seus horizontes e constrói novas relações e amizades”, salientou.
Estudante do sétimo semestre de Pedagogia da Uesb e estagiária da Ludoteca, Geiliana Ferreira Oliveira relatou que o projeto possibilitou uma vivência pedagógica que ela ainda não havia tido. “Outra experiência que venho tendo é o contato com crianças que têm alguma deficiência. Por exemplo, nós recebemos um menino, ele é bem regular em suas visitas e ele tem um tipo de déficit. No início, eu não sabia como lidar, devido a minha falta de experiência, e hoje é a coisa mais normal do mundo. Ele é excelente, de fácil convivência, amoroso, porém eu nunca iria descobrir isso se não fosse a convivência quase diária com ele”, contou a discente.
Brincando com Sucata
“Vivência de Brincadeiras com Sucata – Sala de Espera” integra o Programa de Práticas Psicológicas, Programa de Extensão do curso de Psicologia, no campus de Vitória da Conquista. A ação é voltada à indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, a partir do fortalecimento das ações relacionadas à Clínica-Escola de Psicologia da Uesb. Tendo a sucata como suporte, o intuito do Projeto é possibilitar brincadeiras livres às crianças que estão em situação de espera, acompanhando responsáveis ou aguardando algum serviço, como atendimento psicológico, no Núcleo de Práticas Psicológicas da Universidade.
De acordo com a coordenadora do projeto, professora Carmen Virgínia Moraes, do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas (DFCH), as atividades acontecem no formato de sessões/oficinas/vivências, sem tempo de duração pré-determinado, de forma individual ou coletiva. As crianças são estimuladas a brincar com uma coleção de sucata, de forma livre, sob supervisão de estagiários de Psicologia.
“A sucata, como um material não estruturado, ganha o significado do brincar e propicia o processo criativo; emerge, da relação com a sucata, as experiências anteriores das crianças que se manifestam em diversas construções: construção de muralhas, animais, comidas, entre tantas outras coisas”, ressaltou a professora.
Ainda segundo Moraes, na maioria das vivências com crianças, a interação social se faz presente, em atividades de cooperação, imitação, competição, entre outras, favorecendo a aprendizagem. “Foi nítida a participação, criação e envolvimento das crianças que tiveram acesso à atividade, evidenciando a riqueza de produções por parte da criança, as relações sociais estabelecidas, assim como a riqueza cultural que emergia em cada vivência”. Segundo a coordenadora, o projeto tem sensibilizado estudantes e responsáveis pelas crianças na compreensão do brincar como expressão cultural e ferramenta dos processos de desenvolvimento e de aprendizagem humana, além de ter uma relação próxima com vários componentes curriculares do curso de Psicologia. “O projeto tem estreitado a relação entre Universidade e comunidade, especialmente no que tange à comunidade infantil. Quanto ao público-alvo, o projeto reafirma direitos da criança: direito mais amplo à saúde e um mais específico à brincadeira”, relatou.
Para a estagiária bolsista do projeto, Danielle Monteiro, do quarto semestre de Psicologia da Uesb, é necessário buscar desenvolver um olhar atento a estes momentos de brincadeira, percebendo o brincar como fonte de conhecimento sobre a criança. “Entendo que, a partir do brincar, podemos observar as singularidades das crianças que emergem durante o processo da brincadeira. Assim, percebo que o brincar livre não envolve somente diversão e prazer, mas sim, um momento que contribui para o desenvolvimento motor, cognitivo, psicológico e social da criança”, destacou a estudante.