Projetos lúdicos contribuem para o ensino de Exatas
Pesquisa
Segundo o último relatório do “De Olho nas Metas”, publicado em 2016 pela organização Todos Pela Educação, mais da metade dos estudantes do Ensino Fundamental no Brasil não apresentaram nível de aprendizado adequado em Matemática. Em uma análise do Ensino Médio, os números são ainda mais complicados: apenas 7,3% dos alunos terminam essa etapa de ensino sabendo o suficiente da disciplina. No Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a visão não é diferente. As disciplinas de Matemática, Física e Química são as que tiveram os maiores índices de erros segundo a plataforma AppProva.
Mas essa realidade pode encontrar avanços com métodos diferenciados no ensino do conteúdo dessas áreas. Com ludicidade, alguns projetos desenvolvidos na Uesb vêm trazendo diferencial para o processo de ensino-aprendizado de Matemática, Física e Química.
É o caso da “Fazendinha Matemática”, projeto desenvolvido pela professora Tânia Gusmão, do Departamento de Ciências Exatas e Tecnológicas (DCET), no campus de Vitória da Conquista. Aqui, tudo começa com história. Uma fazenda destruída por uma catástrofe natural precisa ser recuperada e, para isso, é necessário realizar ações de recuperação de animais e de itens do universo rural por meio da aplicação de operações matemáticas.
Alguns projetos desenvolvidos na Uesb vêm trazendo diferencial para o processo de ensino-aprendizagem de disciplinas como Matemática, Física e Química.
Pensado, sobretudo, para a Educação Básica, o projeto trabalha, por exemplo, a habilidade do estudante de resolver problemas envolvendo relações aditivas e multiplicativas. A iniciativa já foi aplicada em diversas escolas da região Sudoeste. “Temos um desafio constante de tentar fazer algo para que os alunos passem a gostar da Matemática, percebam sua beleza e se sintam felizes aprendendo. Buscamos isso com a Fazendinha. Os alunos são os que mais adoram esse nosso trabalho e isso nos motiva a seguir adiante”, conta Gusmão.
Outro grande desafio vem no campo de formação profissional e educacional na área de Física. Percebendo uma grande evasão no curso de Licenciatura da área no campus de Itapetinga, o professor Roberto Claudino Ferreira, do Departamento de Ciências Exatas e Naturais (DCEN), resolveu criar um telescópio amador. A iniciativa deu tão certo que atingiu a formação de cursos de Engenharia e Química, além de alcançar alunos da Educação Básica do município.
O projeto teve início em 2017 e traz consigo uma alternativa ao modelo clássico, além de servir de protótipo para estudar ciência, ser fácil de transportar e, o principal, ter custo baixo. “Com o telescópio, os estudantes podem estudar astronomia para além daquela percepção apenas vista na internet ou na TV. Nossa proposta é que os currículos escolares insiram a astrofísica, pois isso auxilia a desmitificar que o estudo do espaço é apenas para quem possui predisposição intelectual acima da maioria”, explica Ferreira.
Saindo do mundo da Astronomia, é hora de ir à cozinha para aprender Química. Transformando esse espaço em um laboratório, a professora Siméia Cerqueira, do Departamento de Ciências e Tecnologias (DCT), propôs o ensino de conteúdos químicos por meio do preparo de alimentos. As oficinas do projeto “Os alimentos como tema gerador: caminhos alternativos para o ensino de química” foram aplicadas para professores e alunos da Educação Básica de Jequié, envolvendo também graduandos de Química da Universidade.
Na prática, uma padaria foi montada na escola, na qual os alunos estudaram Química a partir do preparo dos pães. A fermentação, por exemplo, foi um dos temas abordados. A experimentação de alternativas como o uso da farinha de banana verde e de outras formulações para tornar os pães mais nutritivos também fez parte dessa metodologia. No final, os pães produzidos nas oficinas ainda viraram lanche dos alunos e professores na escola.
A escolha dos materiais e procedimentos, a interpretação dos resultados e a relação dos conhecimentos prévios com a prática são parte das habilidades estimuladas pelo projeto. “Acredito que as pessoas sintam-se mais motivadas com metodologias que lhes possibilitem participar e relacionar o conteúdo à sua vida. Quando percebem que o assunto estudado faz sentido para a sua vida, pode despertar maior interesse. Motivação e interesse são requisitos para aprendizagem”, revelou Cerqueira.
Com criatividade e muito conhecimento, o caminho para aprender conteúdos matemáticos, físicos ou químicos se tornam menos árduos. Seja na fazenda, na cozinha ou no espaço, a educação pode ser ainda mais encantadora e produtiva.